Assim à partida, a pensar alto, diria que o pochlost tem muito que se lhe diga.
Ultimamente, tenho-me interessado por aquele pochlost que, tendo a forma e conteúdo de pochlost, acaba por não o ser verdadeiramente, ou por outra – é-o, mas encerra também em si a sua própria redenção.
Explico-me melhor. Recentemente, tive não uma, mas duas amigas que olharam para mim com esgares de nojo, reacção que nunca tinha antes provocado em nenhum dos meus amigos (e, esperançosamente, em nenhum ser humano, mas quanto a isto nunca se sabe). Uma das amigas teve esta reacção desagradável por eu lhe ter dito que gostava muito de ouvir o November Rain dos Guns’N’Roses. Outra querida amiga (que permanece uma grande amiga, felizmente), além do esgar de nojo, revirou os olhos e exclamou “o quê?!...ai meu Deus” (e este “ai meu Deus” proferido quase num murmúrio, como normalmente fazemos para indicar que está tudo perdido e nada resta senão desprezo), e tudo isto porque lhe disse que gostava muito do Pó de Arroz do Carlos Paião. E pergunta-me ela, ainda com levíssima esperança de salvação: “mas gostas só desta canção, ou gostas de outras dele?”. Ao que eu respondo que gosto de outras, da Cinderela, do Playback, deste modo conseguindo vários “meu Deus” cada vez mais murmurados. Se elas soubessem o mais encerra o meu ipod tinham, então, um verdadeiro ataque, mas a culpa não é minha – peço desculpa, mas melhor do que Kylie Minogue e Madonna para combater o tédio das passadeiras e bicicletas do ginásio não há; se houver, alguém por favor que me informe.
Admito perfeitamente que November Rain e Pó de Arroz sejam pochlost. Mas são pochlost bom, se é que isto existe. Na minha opinião, parece-me que pode existir. Há certas coisas que são, sem dúvida nenhuma, “falsamente atraentes” e, pior, “falsamente inteligentes”, que é, quanto a mim, o mais hediondo crime, ainda por cima ampliado por, normalmente, as pessoas irem atrás destas coisas verdadeiramente “malignas” sem perceberem a malvadez, a torpeza da falsa inteligência ou da falsa emoção. Os escritores da chamada Geração X, as pobrezas de espírito de Richard Bach ou Nicholas Sparks, por exemplo, que depois dão filmes ainda mais insuportáveis (filmes que eu nunca vi, nem nunca hei de ver, e que, contrariamente ao que se costuma dizer, sei muito bem que não preciso de ver para saber que não prestam) – e isto é apresentado como um “elevado nível de arte”, “o valor mais alto da emoção”. E há mais exemplos - a música que ouvimos 10 vezes (Kylie, Madonna) e de que depois nos fartamos, porque não há ali nada que dê para mais, ao contrário dos Beatles, do Tom Waits, do Leonard Cohen, por exemplo, que ouvimos 20 vezes e há sempre coisas novas a descobrir; os livros que nos encantam quando lemos pela primeira vez e que se esboroam à segunda leitura, porque afinal não estão assim tão bem escritos, porque afinal não têm nenhuma verdade que nos mude a vida, como por exemplo (na minha experiência pessoal), Isabel Allende e quejandos (o realismo fantástico sul americano já não me atrai, aconteceu, o coração muda, é mesmo assim); os filmes que nos sentimos na obrigação de gostar, ou que à partida até gostamos, mas que depois percebemos que o que oferecem não é mais do que uma pretensão desmedida que arruína tudo, como por exemplo (lamento muito, mas vou voltar a insistir neste ponto, ainda por cima sendo este um exemplo perfeito do filme aparentemente “profundo e belo” “lambido todo pela crítica, pelo público”) “Aquele querido mês de Agosto”, etc., etc.
Há, no entanto, no meio deste pochlost todo, algumas coisas que se salvam. Não deixam de ser falsamente atraentes (embora tenham o mérito de não tentar ser inteligentes, e portanto não são falsamente inteligentes porque pura e simplesmente não são inteligentes), mas há nestas coisas algum rasgo que qualidade, de originalidade, que as redime. Não consigo pôr o dedo na ferida e indicar o que é, exactamente, que redime estas coisas, mas algo como November Rain e Pó de Arroz têm-no, quanto a mim. Talvez seja o valor sentimental, a reminiscência da infância e da adolescência, partilhados por toda uma geração, que salva este pochlost menos mau. É o tal “pochlost” benigno. Ou talvez não. Existirá pochlost benigno? Existirá pochlost inofensivo, como eu penso que o November Rain e o Pó de Arroz são?
Talvez a “pochlosta” seja eu e tenha agora mesmo acabado de me desmascarar.
Ultimamente, tenho-me interessado por aquele pochlost que, tendo a forma e conteúdo de pochlost, acaba por não o ser verdadeiramente, ou por outra – é-o, mas encerra também em si a sua própria redenção.
Explico-me melhor. Recentemente, tive não uma, mas duas amigas que olharam para mim com esgares de nojo, reacção que nunca tinha antes provocado em nenhum dos meus amigos (e, esperançosamente, em nenhum ser humano, mas quanto a isto nunca se sabe). Uma das amigas teve esta reacção desagradável por eu lhe ter dito que gostava muito de ouvir o November Rain dos Guns’N’Roses. Outra querida amiga (que permanece uma grande amiga, felizmente), além do esgar de nojo, revirou os olhos e exclamou “o quê?!...ai meu Deus” (e este “ai meu Deus” proferido quase num murmúrio, como normalmente fazemos para indicar que está tudo perdido e nada resta senão desprezo), e tudo isto porque lhe disse que gostava muito do Pó de Arroz do Carlos Paião. E pergunta-me ela, ainda com levíssima esperança de salvação: “mas gostas só desta canção, ou gostas de outras dele?”. Ao que eu respondo que gosto de outras, da Cinderela, do Playback, deste modo conseguindo vários “meu Deus” cada vez mais murmurados. Se elas soubessem o mais encerra o meu ipod tinham, então, um verdadeiro ataque, mas a culpa não é minha – peço desculpa, mas melhor do que Kylie Minogue e Madonna para combater o tédio das passadeiras e bicicletas do ginásio não há; se houver, alguém por favor que me informe.
Admito perfeitamente que November Rain e Pó de Arroz sejam pochlost. Mas são pochlost bom, se é que isto existe. Na minha opinião, parece-me que pode existir. Há certas coisas que são, sem dúvida nenhuma, “falsamente atraentes” e, pior, “falsamente inteligentes”, que é, quanto a mim, o mais hediondo crime, ainda por cima ampliado por, normalmente, as pessoas irem atrás destas coisas verdadeiramente “malignas” sem perceberem a malvadez, a torpeza da falsa inteligência ou da falsa emoção. Os escritores da chamada Geração X, as pobrezas de espírito de Richard Bach ou Nicholas Sparks, por exemplo, que depois dão filmes ainda mais insuportáveis (filmes que eu nunca vi, nem nunca hei de ver, e que, contrariamente ao que se costuma dizer, sei muito bem que não preciso de ver para saber que não prestam) – e isto é apresentado como um “elevado nível de arte”, “o valor mais alto da emoção”. E há mais exemplos - a música que ouvimos 10 vezes (Kylie, Madonna) e de que depois nos fartamos, porque não há ali nada que dê para mais, ao contrário dos Beatles, do Tom Waits, do Leonard Cohen, por exemplo, que ouvimos 20 vezes e há sempre coisas novas a descobrir; os livros que nos encantam quando lemos pela primeira vez e que se esboroam à segunda leitura, porque afinal não estão assim tão bem escritos, porque afinal não têm nenhuma verdade que nos mude a vida, como por exemplo (na minha experiência pessoal), Isabel Allende e quejandos (o realismo fantástico sul americano já não me atrai, aconteceu, o coração muda, é mesmo assim); os filmes que nos sentimos na obrigação de gostar, ou que à partida até gostamos, mas que depois percebemos que o que oferecem não é mais do que uma pretensão desmedida que arruína tudo, como por exemplo (lamento muito, mas vou voltar a insistir neste ponto, ainda por cima sendo este um exemplo perfeito do filme aparentemente “profundo e belo” “lambido todo pela crítica, pelo público”) “Aquele querido mês de Agosto”, etc., etc.
Há, no entanto, no meio deste pochlost todo, algumas coisas que se salvam. Não deixam de ser falsamente atraentes (embora tenham o mérito de não tentar ser inteligentes, e portanto não são falsamente inteligentes porque pura e simplesmente não são inteligentes), mas há nestas coisas algum rasgo que qualidade, de originalidade, que as redime. Não consigo pôr o dedo na ferida e indicar o que é, exactamente, que redime estas coisas, mas algo como November Rain e Pó de Arroz têm-no, quanto a mim. Talvez seja o valor sentimental, a reminiscência da infância e da adolescência, partilhados por toda uma geração, que salva este pochlost menos mau. É o tal “pochlost” benigno. Ou talvez não. Existirá pochlost benigno? Existirá pochlost inofensivo, como eu penso que o November Rain e o Pó de Arroz são?
Talvez a “pochlosta” seja eu e tenha agora mesmo acabado de me desmascarar.
1 comentário:
Olá! Pois bem, não te sintas assim, ao November Rain eu acrecento o Yesterday e sublinho com o Don't Cry enquanto entoo a Cinderela porque uma "árvore é um amigo que devemos celebrar". E os Roxy Music? Esses também geram polémica normalmente. Bjs da Teresa (sim aquela da faculdade)
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