Infelizmente, a sua figura repugnante ainda está na minha memória…não era homem nem mulher, mas era tão frágil que odiava os fortes, fossem homens, sacerdotes ou deuses. Criou um deus à sua semelhança, insignificante e efeminado, e fez dele pai e mãe ao mesmo tempo, dando-lhe uma única função: o amor. Este foi o Herege, o que se fez chamar Akhenaton
Naguib Mahfouz, Akhenaton, o Rei Herege
Como se vê aqui pela fotografia, as incomensuráveis e magníficas estátuas de Akhenaton que podemos apreciar no Museu do Cairo são tudo menos repugnantes. A face do Faraó mantém aquele meio sorriso enigmático, comum à forma como todos os Faraós do Egipto foram normalmente representados, mas difere destes últimos pelos lábios grossos e a cara notoriamente afilada. Nas mãos, cruzadas sobre o peito, segura os costumeiros ceptros, mas o ventre e as ancas, ao contrário dos firmes traços masculinos dos Faraós anteriores (e dos que se seguiram) são rotundos, protuberantes, roliços até, como os de uma jovem mulher em idade fértil. Esteticamente (e não só), o reinado de Akhenaton foi uma revolução, ou uma heresia, ou um atraso, dependendo das perspectivas, devido a esta fusão inaudita do masculino e do feminino, e do novo resultado que isso trazia na representação do Faraó (e, pelos vistos, no governo da nação também). Esta foi a demonstração mais óbvia que tive dos resultados esteticamente tão interessantes que a androginia pode ter.
Ao ouvir a “Lola” dos Kinks voltei a pensar nesta questão da androginia. A Lola parece mesmo ser daquelas mulheres muito macho, ou então um travesti. E o senhor que canta a canção gosta da Lola talvez por não ser, nas suas próprias palavras, o homem mais masculino do mundo. Talvez algo semelhante à inesquecível figura enleada de Tim Curry no Rocky Horror Picture Show, nitidamente um homem mas carregado de maquilhagem berrante e a pavonear-se em corpete, meias de liga e umas pernas do tamanho do mundo, elegantemente alcandoradas em garridos saltos vertiginosos:
Naguib Mahfouz, Akhenaton, o Rei Herege
Como se vê aqui pela fotografia, as incomensuráveis e magníficas estátuas de Akhenaton que podemos apreciar no Museu do Cairo são tudo menos repugnantes. A face do Faraó mantém aquele meio sorriso enigmático, comum à forma como todos os Faraós do Egipto foram normalmente representados, mas difere destes últimos pelos lábios grossos e a cara notoriamente afilada. Nas mãos, cruzadas sobre o peito, segura os costumeiros ceptros, mas o ventre e as ancas, ao contrário dos firmes traços masculinos dos Faraós anteriores (e dos que se seguiram) são rotundos, protuberantes, roliços até, como os de uma jovem mulher em idade fértil. Esteticamente (e não só), o reinado de Akhenaton foi uma revolução, ou uma heresia, ou um atraso, dependendo das perspectivas, devido a esta fusão inaudita do masculino e do feminino, e do novo resultado que isso trazia na representação do Faraó (e, pelos vistos, no governo da nação também). Esta foi a demonstração mais óbvia que tive dos resultados esteticamente tão interessantes que a androginia pode ter.
Ao ouvir a “Lola” dos Kinks voltei a pensar nesta questão da androginia. A Lola parece mesmo ser daquelas mulheres muito macho, ou então um travesti. E o senhor que canta a canção gosta da Lola talvez por não ser, nas suas próprias palavras, o homem mais masculino do mundo. Talvez algo semelhante à inesquecível figura enleada de Tim Curry no Rocky Horror Picture Show, nitidamente um homem mas carregado de maquilhagem berrante e a pavonear-se em corpete, meias de liga e umas pernas do tamanho do mundo, elegantemente alcandoradas em garridos saltos vertiginosos:
Absolutamente deslumbrante em todo o seu esplendor de baton, rímel, plumas e restantes atavios. A maquilhagem fica melhor a um jovem Tim Curry do que a muitas mulheres. Aliás, e como já pude constatar, qualquer exibição do Rocky Horror Picture Show ainda leva as pessoas em alegre grupos ao cinema, sendo de tradição que os homens se vestem de mulher. Pelo que observei, todos estes homens são muito machos na sua vida normal, mas, na noite em que vão ver este filme em particular, despem-se de todas as inibições e é vê-los de unhas pintadas e meias de ligas a exibir as pernaças, um pouco como no Carnaval de Torres Vedras, mas mais composto. Tenho um amigo que diz que, no fundo no fundo, as mulheres são todas umas lésbicas e que adoram homens andróginos, com ar de gaja. Se isto é verdade, é também verdade que os homens adoram qualquer desculpa para se vestirem à gaja da cabeça aos pés e a preceito, muitas vezes com mais pormenores até do que uma verdadeira mulher.
Ao ler o livro de Mafhouz, percebemos que Akhenaton era efeminado porque, ao invés da guerra, preferia o amor. Qualquer semelhança com Jesus Cristo não é, como parece claro, pura coincidência. Já Vénus era a deusa do amor e Marte o deus da guerra. No entanto, juntar tudo num só, como Akhenaton, e se possível com a exuberância irrepreensível de Tim Curry, resulta e bem.
Ao ler o livro de Mafhouz, percebemos que Akhenaton era efeminado porque, ao invés da guerra, preferia o amor. Qualquer semelhança com Jesus Cristo não é, como parece claro, pura coincidência. Já Vénus era a deusa do amor e Marte o deus da guerra. No entanto, juntar tudo num só, como Akhenaton, e se possível com a exuberância irrepreensível de Tim Curry, resulta e bem.
1 comentário:
Fazes análises tão giras!
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