Há pouco tempo, vi na televisão o filme, presumo que mais ou menos ficcionado, sobre Grey Gardens, uma casa decadente nos Hamptons onde viviam Big Edie e Little Edie, mãe e filha, dementes, doces e completamente afastadas do mundo. Conheci-as ao ver o documentário dos irmãos Maysles, que me impressionou muito, e sobre o qual escrevi aqui; vi também, há relativamente pouco tempo, um outro documentário destes realizadores sobre os Beatles (The Beatles - The First US Visit) que, incrível e supreendentemente, me desapontou.
Estes documentários, tal como o recente Fantasia Lusitana de João Canijo, recusam muito claramente a voz off e vão mais longe - recusam entrevistas com possíveis "especialistas" a opinar sobre o assunto, deste modo evitando quaisquer cortes entre o espectador e o objecto a documentar. É o objecto que tem a única voz do filme, inteira e ininterrupta. Quando este objecto consiste em duas senhoras divertidas e com uma vida tão estranha e inimaginável como as Edies, corre tudo bem. Quando o objecto consiste num país que sofre do tal irrealismo prodigioso, também corre tudo bem. Então, porque é que não resulta com os Beatles?
Porque a única coisa que decorre de um documentário filmado nos anos 60 e que se limita a filmar os Beatles em todas as ocasiões possíveis é o facto de se tornar penosamente óbvio que nenhum dos quatro elementos da banda estava alguma vez sozinho, ou tinha tempo para reflectir, ou para pura e simplesmente ficar calado. Tinham sempre gente à volta, e o que o documentário regista é que os quatro Beatles passavam a vida a mandar bocas inconsequentes e a "entrar no personagem", correspondendo à performance que deles era constantemente esperada. A autenticidade, que enternece e seduz em Grey Gardens, é evitada e nunca transparece no documentário sobre os Beatles.
Talvez a conclusão a retirar seja isto mesmo, a de que os Beatles, coitadinhos, tinham sempre gente à volta, ou então eram pura e simplesmente ocos e não tinham nada para dizer. Eu, porém, acho que tinham porque já li entrevistas bem mais interessantes com a banda. De modo que este estilo documental de dar voz, directa e ininterrupta, àquilo que se retrata nem sempre é boa ideia. Às vezes, não faz mal haver voz off, os tais especialistas a explicar tudo bem explicadinho como se o espectador fosse parvo e tal. Dá mais substância.
Bom. Não tenho mais nada a dizer. Parece que, depois de tanta frase, teria assim uma conclusão mais retumbante, não é? Mas não, fico mesmo por aqui. Não era a minha intenção escrever um post enganoso, e portanto desde já aqui deixo as minhas desculpas.
Estes documentários, tal como o recente Fantasia Lusitana de João Canijo, recusam muito claramente a voz off e vão mais longe - recusam entrevistas com possíveis "especialistas" a opinar sobre o assunto, deste modo evitando quaisquer cortes entre o espectador e o objecto a documentar. É o objecto que tem a única voz do filme, inteira e ininterrupta. Quando este objecto consiste em duas senhoras divertidas e com uma vida tão estranha e inimaginável como as Edies, corre tudo bem. Quando o objecto consiste num país que sofre do tal irrealismo prodigioso, também corre tudo bem. Então, porque é que não resulta com os Beatles?
Porque a única coisa que decorre de um documentário filmado nos anos 60 e que se limita a filmar os Beatles em todas as ocasiões possíveis é o facto de se tornar penosamente óbvio que nenhum dos quatro elementos da banda estava alguma vez sozinho, ou tinha tempo para reflectir, ou para pura e simplesmente ficar calado. Tinham sempre gente à volta, e o que o documentário regista é que os quatro Beatles passavam a vida a mandar bocas inconsequentes e a "entrar no personagem", correspondendo à performance que deles era constantemente esperada. A autenticidade, que enternece e seduz em Grey Gardens, é evitada e nunca transparece no documentário sobre os Beatles.
Talvez a conclusão a retirar seja isto mesmo, a de que os Beatles, coitadinhos, tinham sempre gente à volta, ou então eram pura e simplesmente ocos e não tinham nada para dizer. Eu, porém, acho que tinham porque já li entrevistas bem mais interessantes com a banda. De modo que este estilo documental de dar voz, directa e ininterrupta, àquilo que se retrata nem sempre é boa ideia. Às vezes, não faz mal haver voz off, os tais especialistas a explicar tudo bem explicadinho como se o espectador fosse parvo e tal. Dá mais substância.
Bom. Não tenho mais nada a dizer. Parece que, depois de tanta frase, teria assim uma conclusão mais retumbante, não é? Mas não, fico mesmo por aqui. Não era a minha intenção escrever um post enganoso, e portanto desde já aqui deixo as minhas desculpas.
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