Eu acho que, mais ou menos, percebi aquela questão da dialéctica senhor/escravo do Hegel e tal. O trabalho liberta. Se o senhor vive do trabalho do escravo, então quem é livre é o escravo, porque, sem o trabalho deste, o senhor não vai a lado nenhum e portanto quem é dependente é o senhor, e não o escravo.
Pois. Isto é tudo muito bonito e verdadeiro. E nem sequer vou falar da adendazinha que o Marx juntou aqui a esta dialéctica. Vou dizer, sim, que se eu pudesse ser livre sem ter de andar a trabalhar, desculpa lá, ó Hegel, mas preferia muito mais.
Não me venham com as histórias do trabalho que é edificante. Onde é que está a edificação em ter de andar a trabalhar para ganhar dinheiro ao fim do mês? Trabalho assim não é edificante. Nós é que nos enganamos a nós próprios porque é a única forma de suportar o jugo, e então inventámos este conceito de "realização profissional" para taparmos os olhos. E é exactamente aquilo que eu faço, porque, se os meus olhos se abrem, e eu vejo o Carmo e a Trindade finalmente a cair, nunca mais Lisboa se recompõe. E depois é uma maçada.
Ai.
Se o Hegel fosse vivo, conversava um bocadinho com ele no sentido de o fazer alterar, ligeiramente, a dialéctica - não dá para ser "toda a gente é senhor porque ninguém precisa de trabalhar?".
Não me venham com as histórias do trabalho que é edificante. Onde é que está a edificação em ter de andar a trabalhar para ganhar dinheiro ao fim do mês? Trabalho assim não é edificante. Nós é que nos enganamos a nós próprios porque é a única forma de suportar o jugo, e então inventámos este conceito de "realização profissional" para taparmos os olhos. E é exactamente aquilo que eu faço, porque, se os meus olhos se abrem, e eu vejo o Carmo e a Trindade finalmente a cair, nunca mais Lisboa se recompõe. E depois é uma maçada.
Ai.
Se o Hegel fosse vivo, conversava um bocadinho com ele no sentido de o fazer alterar, ligeiramente, a dialéctica - não dá para ser "toda a gente é senhor porque ninguém precisa de trabalhar?".
3 comentários:
Lembro-me de ser bem puto e ouvir o Agostinho da Silva falar na televisão, quando esta ainda instruía alguma coisinha.
Ficava a ouvir aquele senhor, sentado a uma mesa, com a sua barba grisalha e os dentes escavacados dizer coisas que tinham muito sentido (efeito completamente contrário dos discursos de Vasco Granja).
E uma coisa que ficou daqueles monólogos foi precisamente quando ele se referiu ao trabalho. E se uma criança percebe, e se lembra muitos anos mais tarde da mensagem, é porque definitivamente esta passou na sua mais forma mais elementar e directa.
Dizia o grande Agostinho que a sociedade nos oprime, mais que não seja porque nos obriga a trabalhar, porque sem dinheiro, nada feito - uma mensagem simples.
E assim é. E lá nos prostituímos mais um bocadinho todos os dias, porque a isso somos obrigados. (Isto assim já é uma trialéctica). Enfim, desde que paguem, já não me queixo.
Peço desculpa de usar o seu blog para fazer publicidade de borla.
Apenas para dizer que estou a publicar trechos antigos com vinte anos da K e um dos últimos (bem desagradável) é sobre Agostinho da Silva.
Zorze, obrigada pelo interessantíssimo comentário. E o grande Agostinho, como dizes, tinha tanta razão que até custa.
Fado, esteja perfeitamente à vontade. :)
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