O problema das maleitas que demoram a passar e persistem em afligir-nos por muitos dias é que se começa a ter muito afincadamente a noção do "mal-estar". Quase que se materializa à nossa frente.
Os sonhos de febre são os piores, os mais disformes. Vozes que nos gritam ao ouvido e que depois se esbatem, para mais tarde voltarem novamente, em ondas, e aquelas cores estranhas, amorfas, que percorrem a mente em grande rapidez. É, na verdade, uma experiência muito surreal.
Como não consigo escrever mais, que o "mal-estar" assola, queria porém deixar um poema que ilustra tudo isto e muito mais. Só me lembro dele (do poema) quando estou doente, e penso que se percebe porquê - foi escrito por Samuel Taylor Coleridge, esse romântico levemente alucinado que, como muitos outros românticos, gostava de comer comida estragada para ter pesadelos e depois escrever sobre eles. Manias.
Não admira, portanto, que o talento de S. T. Coleridge, combinado com as grandes perturbações intestinais que com certeza o acometiam, e que, como todos sabemos, seriam com certeza grande inspiração, tenha resultado neste clarividente poema sobre o incómodo, a alteração, da "doença" - aqui vão, sem mais delongas, alguns versos de "The Pains of Sleep":
Ere on my bed my limbs I lay,
It hath not been my use to pray
With moving lips or bended knees;
But silently, by slow degrees,
My spirit I to Love compose,
In humble trust mine eyelids close,
With reverential resignation,
No wish conceived, no thought expressed,
Only a sense of supplication;
A sense o'er all my soul impressed
That I am weak, yet not unblessed,
Since in me, round me, every where
Eternal strength and wisdom are.
But yester-night I prayed aloud
In anguish and in agony,
Up-starting from the fiendish crowd
Of shapes and thoughts that tortured me:
A lurid light, a trampling throng,
Sense of intolerable wrong,
And whom I scorned, those only strong!
Thirst of revenge, the powerless will
Still baffled, and yet burning still!
Desire with loathing strangely mixed
On wild or hateful objects fixed.
Fantastic passions! maddening brawl!
And shame and terror over all!
É um pouco isto que se passa quando estamos doentes e não dá para fechar os olhos e dormir o sono dos justos, não é?
Não admira, portanto, que o talento de S. T. Coleridge, combinado com as grandes perturbações intestinais que com certeza o acometiam, e que, como todos sabemos, seriam com certeza grande inspiração, tenha resultado neste clarividente poema sobre o incómodo, a alteração, da "doença" - aqui vão, sem mais delongas, alguns versos de "The Pains of Sleep":
Ere on my bed my limbs I lay,
It hath not been my use to pray
With moving lips or bended knees;
But silently, by slow degrees,
My spirit I to Love compose,
In humble trust mine eyelids close,
With reverential resignation,
No wish conceived, no thought expressed,
Only a sense of supplication;
A sense o'er all my soul impressed
That I am weak, yet not unblessed,
Since in me, round me, every where
Eternal strength and wisdom are.
But yester-night I prayed aloud
In anguish and in agony,
Up-starting from the fiendish crowd
Of shapes and thoughts that tortured me:
A lurid light, a trampling throng,
Sense of intolerable wrong,
And whom I scorned, those only strong!
Thirst of revenge, the powerless will
Still baffled, and yet burning still!
Desire with loathing strangely mixed
On wild or hateful objects fixed.
Fantastic passions! maddening brawl!
And shame and terror over all!
É um pouco isto que se passa quando estamos doentes e não dá para fechar os olhos e dormir o sono dos justos, não é?
4 comentários:
Ohh, as melhoras Rita F. Espero que passe depressa :-/
Oh querida Caetana, vejo que "esses ossos" não vão melhor... Pois que isto da maleita leva ao acometimento. E essa fase, é de facto muito má.
Por isso daqui vão os meus sentidos votos de rápidas melhoras.
Desejo as suas rápidas melhoras bem como ao Coleridge.
É curioso como os acontecimentos mudam de país para país.
No do poeta ele comia coisas estragadas e produzia belos versos.
Aqui em Portugal comem coisas muito boas em restaurantes muito bons e depois a maioria dos escritores lusos (não se coloca nenhum nome para não melindrar os ausentes) produz aquilo que eufemísticamente chamou "pó" no texto anterior.
Muito obrigada a todos. Estou melhor. :)
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