A dialéctica senhor/escravo tem muitas ramificações e relevância na sociedade dos nossos tempos. É, no fundo, uma explicação da dependência. As pessoas desprezam os "drógados", porque não contribuem para o bem da comunidade e arrumam carros quando ninguém lhes pede, mas elas próprias (eu incluída) são dependentes.
Exemplificando. O meu computador é ancião. Não direi que é pré-histórico, mas é, vamos lá, da Antiguidade. Nem sequer chega à Idade Média. Mas funciona, portanto vou-me aguentando, alegremente, com ele. A desvantagem, porém, de estar em posse de um computador pré-medieval é que, com alguma frequência, ele é acometido de certas maleitas. Desta vez, foi o carregador que se estragou, o que me obrigou a ficar dois dias sem pc, até encontrar forma de resolver a questão, que felizmente foi resolvida.
Constatei, nesse par de dias, que não ter computador é debilitante. Não pude trabalhar. Tudo o que precisava para trabalhar, processador de texto incluído, estava no pc. Não pude escrever. Já não consigo escrever à mão. Sei isto porque me perguntaram - mas não podes escrever à mão? E aí, fui forçada a admitir que não. O máximo que ainda escrevo à mão são cartas, postais, mas normalmente envio emails. Se pegar numa caneta e olhar para uma folha branca, a gritar por palavras, nada me sai.
De modo que o trabalho atrasou todo e passei dois dias entupida. Ainda por cima, o livro que estou a ler não me agrada sumamente, o que toldou ainda mais a minha mente habituada a estímulos fáceis.
E assim se conclui que Hegel tinha toda a absoluta razão - o computador é o senhor, eu sou verdadeiramente a escrava. E o mesmo se passa com toda a gente que tem o trabalho todo no computador, de tal forma que este se torna quase um pedaço da vida das pessoas. Se o perdemos, é uma chatice.
Porém, ontem, nas notícias, ao ver as pessoas fascinadas, algumas até dispostas a fazer sacrifícios à carteira, com os novos écrãs 3D, para poderem ir para casa e lá ficarem, de óculos escuros, a olhar para a televisão, senti uma súbita alegria reconfortante. Sim, eu posso ser um exemplo de alienação, que é coisa que terei de resolver. Mas há gente muito, muitíssimo, pior do que eu.
Exemplificando. O meu computador é ancião. Não direi que é pré-histórico, mas é, vamos lá, da Antiguidade. Nem sequer chega à Idade Média. Mas funciona, portanto vou-me aguentando, alegremente, com ele. A desvantagem, porém, de estar em posse de um computador pré-medieval é que, com alguma frequência, ele é acometido de certas maleitas. Desta vez, foi o carregador que se estragou, o que me obrigou a ficar dois dias sem pc, até encontrar forma de resolver a questão, que felizmente foi resolvida.
Constatei, nesse par de dias, que não ter computador é debilitante. Não pude trabalhar. Tudo o que precisava para trabalhar, processador de texto incluído, estava no pc. Não pude escrever. Já não consigo escrever à mão. Sei isto porque me perguntaram - mas não podes escrever à mão? E aí, fui forçada a admitir que não. O máximo que ainda escrevo à mão são cartas, postais, mas normalmente envio emails. Se pegar numa caneta e olhar para uma folha branca, a gritar por palavras, nada me sai.
De modo que o trabalho atrasou todo e passei dois dias entupida. Ainda por cima, o livro que estou a ler não me agrada sumamente, o que toldou ainda mais a minha mente habituada a estímulos fáceis.
E assim se conclui que Hegel tinha toda a absoluta razão - o computador é o senhor, eu sou verdadeiramente a escrava. E o mesmo se passa com toda a gente que tem o trabalho todo no computador, de tal forma que este se torna quase um pedaço da vida das pessoas. Se o perdemos, é uma chatice.
Porém, ontem, nas notícias, ao ver as pessoas fascinadas, algumas até dispostas a fazer sacrifícios à carteira, com os novos écrãs 3D, para poderem ir para casa e lá ficarem, de óculos escuros, a olhar para a televisão, senti uma súbita alegria reconfortante. Sim, eu posso ser um exemplo de alienação, que é coisa que terei de resolver. Mas há gente muito, muitíssimo, pior do que eu.
2 comentários:
Querida Caetana, constato que a sua relação com a tecnologia continua conturbada...
"Continua"? Sempre foi - a base da minha relação com a tecnologia é mesmo a conturbação, Caetano. :)
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