quinta-feira, 6 de maio de 2010

Ardente e violentamente

Estou a sempre a começar posts pelo desagradável intróito (tão desagradável como a própria palavra "intróito" e a pessoa que o escreve) "não gosto de pessoas que...".
E este post não vai variar. Não gosto de pessoas que não gostam muito de uma coisa. Aquelas pessoas que gostam de tudo e não gostam verdadeiramente de nada.
Ah, Pearl Jam? Gosto, pois, já os vi ao vivo.
Ah, Kraftwerk? Gosto, pois, já os vi ao vivo.
Ah, Quim Barreiros? Gosto, pois, já o vi ao vivo.
Ah, George Orwell? Gosto, pois, já o li ao vivo.
Ah, A Aparição? Gosto, pois, já li e pensei sobre o livro ao vivo! (pois claro...)
Ah, Lídia Jorge? Gosto, pois, já a li e vi o filme ao vivo.
Ah, Murakami? Gosto, pois, etc.
Não é possível. Há gente que gosta destas coisas todas que eu enunciei, tudo ao mesmo tempo, sem critério nenhum, e sem se manifestar ardente e violentamente por nada. Não acredito em quem não se manifesta ardente e violentamente por nada, e prefiro não acreditar, porque é gente que me irrita.
Uma vez, ao ler uns pensamentos de Vergílio Ferreira, de que, por acaso, gostei muito, deparei-me com o seguinte: Morrerás em breve. É incontestável. E quanta verdade morrerá contigo sem saberes que a sabias. Só por não teres tido a sorte de num simples encontro ou encontrão ta fazerem vir ao de cima.
Portanto, como é que há pessoas que passam a vida a evitar as verdades que devem sentir com toda a força, a encolher os ombros, a gostar de tudo por igual, por atacado? Essas pessoas são as mesmas de quem fala Vergílio Ferreira. Fazem-me impressão.
Sou uma pessoa muito impressionável.

7 comentários:

Zorze disse...

Sábias, e muito certas palavras, as tuas. Já lá diz o povo, e mais uma vez com razão, porque o povo sabe: quem não sente, não é filho de boa gente.
E é bem verdade, não se pode sentir o mesmo por tudo ao mesmo tempo. É preciso sentir cada coisa pelo que ela é, porque se todas as coisas nos despertam o mesmo sentimento, então é porque valem o mesmo, e são todas iguais. E isso não é bem assim, como tu dizes.
Já a questão dos critérios não sei...

Di disse...

Sabes, já não se fazem seres como tu, pensar dá trabalho, é mais fácil viver na indiferença, no "go with the flow"...Por essas e por outras é que desejo sorte às mulheres que procuram companheiro: não lhes falte coragem!

betânia liberato disse...

"Não acredito em quem não se manifesta ardente e violentamente por nada"

ai! tão bom tão bom o que tu escreves.

JB disse...

Rita Forever.

aletis disse...

Também não acredito que haja pessoas a gostar de tudo isso, ao mesmo tempo e da mesma maneira. Se alguém me dissesse isso, ia pensar que não sabem do que se está a falar e não querem admitir a sua ignorância, ou não querem confessar do que gostam realmente, por considerarem embaraçoso. Ou então, ainda não descobriram o que os apaixona. Em qualquer destes casos, acho triste.

Rita F. disse...

Caetano, essa vinda a Lx? E sim, os critérios é toda uma dinâmica complicadota...

Di, eu acho que coragem é preciso sempre, antes e depois de encontrar alguém. Também é peciso muita coragem para decidir passar a vida toda a aturar o outro, não é?

b'passarinho, que a tanto me ajude o engenho e a arte... :)

Zé, você é que é forever.

Aletis, acho que muitas vezes o que se passa é que as pessoas não descobriram o que verdadeiramente as entusiasma, precisamente. Mas, quando chegam a uma certa idade, já deviam ter uma ideia, sem prejuízo de descobrir coisas novas, de mudar de opinião. É um problema.

ecila disse...

Sao como as pessoas que chamam amor, doce e fofinha a tudo o que mexe. Nao é possivel achar que todos sao amores e fofinhos. Além de perder o verdadeiro significado da coisa, fico sempre a pensar o que chamarao aos verdadeiros amor, doce e fofinha das suas vidas (supremo amor? doce mais doce? fofissima?) :-P