quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Educação que faz doer (SPOILERS)


Vi ontem o filme "An Education". Gostei muito, e achei a Carey Mulligan um doce, ao passo que Peter Saarsgard, o seu amante mais velho, estava terrivelmente assustador e seboso, isto é: os actores cumpriram muito bem o seu papel.
Além do filme, gostei também muito de ler aqui o relato da verdadeira história em que o filme se baseia. A jornalista Lynn Barber resume o seu affair meio sórdido, meio desiludido, com um homem mais velho, sedutor mas de pouco encanto, por quem ela nunca se apaixona, que rapidamente a entedia, e que se revela um criminoso untuoso, alguém que provoca desconforto, em quem sabemos não poder confiar. Tudo acaba de uma forma quase trágica - ele é casado, ela tinha desistido de Oxford para se tornar a sua noiva e acaba sozinha, sem noivo nem Oxford. Diz Lynn Barber que a ruptura amorosa não a afectou (nunca se tinha apaixonado por ele), mas que o que a abalou foi ter abandonado a sua própria vida e os seus planos de independência em nome de um homem da má vida que a levava a restaurantes e com quem concordou casar porque os pais lhe disseram que, quando se tem um bom marido, não é preciso ir para a universidade.
Lynn Barber diz também que, apesar do seu longínquo amante mais velho não ter passado de um criminoso que nunca sequer lhe despertou grande paixão, a "educação" que ele lhe deu é fundamental - foi com ele que aprendeu a valorizar outro tipo de homens, homens bondosos, honestos, de confiança. Sem a brutal experiência do "homem malfeitor", talvez nunca apreciasse e acabasse por se apaixonar pelo marido com quem viveu 30 anos, diz ela, este sim, o verdadeiro bom rapazinho.
Eu acho que compreendo bem o que Lynn Barber quer dizer. Há pessoas que parecem deslumbrantes à primeira vista - dinâmicas, atraentes, independentes, de bom gosto - mas que rapidamente se revelam uma imensa desilusão, de tal modo que se tornam entediantes, embaraçosas. O problema é que, se as deixamos entrar na nossa vida, podemos não saber muito bem como as tirar de lá. Mas é apenas quando nos desiludimos desta forma tão profunda que vamos à procura de outro tipo de pessoas, daquelas que nos podem fazer felizes a sério.
É pena que, para encontrarmos qualquer tipo de felicidade na vida, tenhamos primeiro de bater com a cabeça contra o muro com tanta força que nos cresce um galo. Eu tento ter a convicção de que, quando o galo passar, o muro vai abaixo.

6 comentários:

Sophia disse...

eu "Tenho" esse filme porque achei o argumento engraçado no entanto não li o teu texto, gosto de contar o fim dos filmes mas não de os saber...

Vou ver hoje e logo leio...

fado alexandrino. disse...

Vi, gostei e na altura apeteceu-me fazer um post mas ao engenho não lhe apeteceu e assim morreu.
Um belo filme e custa muito dizê-lo representa belamente o pensamento pequeno burguês daquela gentinha de subúrbio e ainda melhoraria se o fim fosse um bocado mais ácido, mas nessa altura eu ainda não sabia que era real e aliás só soube agora pelo seu post.
Ninguém sai dali inocente, nem os parolos doa pais nem a gananciosa da garota que literalmente se vende por um carro, um jantar uma jóia e acima de tudo para se fazer importante perante as outras garotas.
E o trafulha muito menos mas essa é a maneira untuosa dele viver.
O outra par parece (peço desculpa) uma cópia mais juvenil de um Elsa Raposo e (nome que muda com frequência).
É claro que o seu post versa menos sobre o filme e mais sobre as desilusões.
Mas para se ter aquela desilusões é preciso também ser um pouco tolo e isso dificilmente tem cura.

Andorinha disse...

Olá Rita, comecei por este post que a Luna partilhou. O "An Education" foi um dos poucos filmes de que gostei mesmo muito nos últimos tempos. A seguir fiquei presa na forma como escreves. Deste-me cá uma "inbejinha"! Eu não sei escrever assim.Não sou dada a graxas, nem elogios só porque sim. Fizeste-me lembrar a minha antiga colega de casa que é jornalista e quase que minha irmã e as saudades que tenho de passar mais tempo com ela. Todos os dias ela contava as peripécias dela e tinha sempre a sensação que estava a ouvir uma história dum livro, nos detalhes, nas observações, nas lembranças...e li, e li, e li, e só não leio mais pq por mto que tenha gostado, amanhã tenho avião pra PT e ou me deito ou não me vou conseguir atirar da cama abaixo! Escreves mesmo muito bem, e com uma despretensão fantástica!
E não vou continuar aqui a rodar elogios que eu sei que tudo o que é demais enjoa embora saiba muito bem. Vou passando. Fiquei fã.

Rita F. disse...

Margarida, espero que gostes/tenhas gostado. Eu gostei bastante, principalmente do Saarsgad, consegue ser tão seboso... quer dizer, não gostei por ser seboso, gostei por ser bom actor.

Fado (se não se importar que o trate pelo primeiro nome... :) ), concordo, é preciso ser tonto para ter desilusões assim. Mas penso que a ideia do filme era mostrar isso mesmo - a rapariga não era inocente, mas era tonta porque era nova. Ela própria diz aos pais, no fim, que é normal que as adolescentes tontas se deixem seduzir por galãs foleiros como o David. Não conseguem avaliar a foleirice porque são novas. O que não é normal é que os pais das adolescentes se deixem seduzir também.
Não concordo, porém, que a tontice não tenha cura. Com alguma inteligência, este tipo de desilusão pode levar à cura.

Andorinha, obrigada e volta sempre. :)

Carol disse...

Não vi o filme, mas fiquei bastante curiosa.
Vim aqui ter pelo blog da Luna. Bom texto. Acho que é fácil qualquer pessoa se identificar com o que foi escrito. É a forma de ver as coisas de um ponto de vista positivo. Bom uso das palavras!
Voltarei!

Sophia disse...

já li e já deixei um comentário mas acho que se perdeu algures. Adorei o filme. há sempre um cabrão que nos mete a vida de pernas para o ar e o olhar dela quando recebe a carta? dava um post :)


(eu não sei se ela lê comentários antigos...)