terça-feira, 14 de julho de 2009

A memória é o mês mais cruel

Há temas recorrentes nos filmes de Woody Allen que me fazem reflectir e, às vezes, chegam quase a atormentar. Um desses temas é a memória.
Já escrevi aqui no blog que uma das frases que não esqueço, e que é pronunciada pela personagem principal de Another Woman, é I wonder if a memory is something you have or something you lost. Penso nisto tantas, tantas, tantas vezes.
Num outro filme de Woody, Husbands and Wives, a personagem de Mia Farrow separa-se do marido (peço desculpa pelo spoiler), representado por Woody Allen. Este procura atraí-la de volta com recordações felizes e carinhosas do passado de ambos, ao que Mia Farrow responde: those memories are just memories. They're from years gone by, they're just isolated moments. They don't tell the whole story.
Inclino-me mais a concordar com Mia Farrow e encarar as recordações como coisas perdidas. Todo o passado, no fundo, é uma perda imensa. E nem sei se isto é bom, se é mau. Parece muito negro e negativo, mas talvez encarar a memória como um momento que perdemos seja surpreendentemente vantajoso. Se as recordações forem más, alegramo-nos por serem já passado irrecuperável que não voltaremos a viver; se forem boas, não precisamos de ter saudades porque o que se perdeu está perdido, o que foi ao ar perdeu o lugar e já não vale a pena pensar mais nisso.
A recordação de tempos felizes é, como TS Eliot dizia do mês de Abril, uma coisa crudelíssima. Conseguem ser uma verdadeira tortura para a mente. Sei que isto é novamente o meu desgastante pessimismo a falar, mas não deixa de ser verdade.
Tenho de deixar de ver tanto Woody Allen, que, com a mania que é sueco, é bem capaz de ser responsável pela depressão que a internet, aparentemente, me diagnosticou.

Sem comentários: