sexta-feira, 17 de julho de 2009

The apparition of these faces in the crowd; Petals on a wet, black bough.


Nome é a imitação, por meio da voz, daquilo que nomeia e imita o imitador, lê-se em Crátilo.

(disclaimer: qualquer relação entre o lindo e composto título do post, roubado a Ezra Pound, e a frase inicial, roubada a Platão, e a qualidade do post que se segue é mera coincidência)

Passado alguns míseros séculos, Saussure contradisse Platão e afirmou que as coisas não eram assim. Toda a linguagem não passa de convenção, e não é a essência. O que quer dizer que eu seria exactamente a mesma pessoa caso me chamasse Ana, Margarida, Sofia, Cristina, Joana, Maria, Constantina, Fernanda, Gertrudes.
Porém - seria, de facto, a mesma pessoa se me chamasse Gertrudes? Se calhar, não. Se calhar, crescia a não gostar do meu nome e desenvolveria problemas de auto-estima. Ou então, por ser um nome tão diferente, crescia a adorá-lo e a pensar que era a melhor. Tornava-me "manienta", como certas pessoas gostam de dizer, e não há problema, porque é um excelente vocábulo português.
Quando nos é dado um nome, ele não acaba por fazer, de certa forma, parte da nossa essência? Talvez não porque, apesar de tudo, há pessoas que mudam de nome e não mudam de essência. Mas isto talvez queira dizer que estas pessoas mudaram de nome porque encontraram outro que finalmente as define. Talvez o nome possa, de facto, ser, mais do que uma convenção, a tal essência, a Ideia.
Eu acho mesmo que sim porque, por exemplo, não gostava nada de me chamar "Cátia" (e posso escrever isto à vontade porque só com um grande azar é que há alguém chamado Cátia por entre os (poucos mas muitíssimo bons) transeuntes desta Rua). Quando conhecemos alguém com uma grande personalidade que se chama Cátia, a tal "Cátia" normalmente diz não gostar do seu nome, e nós normalmente também pensamos sempre que a pessoa não tem, de facto, "cara" de Cátia. E este critério (a pessoa ter cara de...) aplica-se à maior parte de nós. Todos temos "cara" de um qualquer nome, um nome que se aplica a quem somos. Eu, por exemplo, chamo-me Rita mas tenho uma grande cara de Louise Brooks. É que tenho mesmo, perguntem a quem quer que seja que me conhece. Não estou a mentir. É que não estou mesmo. Longe de mim.

3 comentários:

ecila disse...

Estranho, estranho é varias pessoas chamarem-me Vanessa quando o meu nome nao tem nada a ver com Vanessa. Isso preocupa-me... muito!

Cátia disse...

*aponta para nome*
Pois. Mas não faz mal. Antes também não gostava do meu nome, mas depois averiguei o significado e aceitei. Mesmo assim, mudo-o quando arranjar um mais adequado, todas as outras Cátias que conheci eram biatches.

Rita F. disse...

Ecila, as pessoas gostam de fazer associações estranhas. A mim tratam-me muitas vezes por "Ana Rita" (horror!) porque não conseguem aceitar que alguém se chame só Rita, por exemplo.

Cátia, desculpa lá qualquer coisinha. Um nome é só um nome, o Platão não sabia o que estava a dizer, não é? :)