Há bar e bar, há ir e voltar
Blog arrependido de um pintor incompreendido
Portanto, eu fugi, né. Tinha a polícia toda à perna, eh pá, pronto, tive mesmo de fugir, né. Acho que matei um gajo qualquer lá no bar, bem, que azar do caraças, mas isto também só me acontece a mim!
Mas vá lá, consegui trazer cesto da fruta. Sem ele, nunca mais pintava nada, nada, nada!
Agosto, 1594
Ai a minha vida, acho que matei outro gajo. Tenho de mudar esta vida, já tenho outra vez a polícia atrás de mim, que chatice!
Bom, mas ontem conheci um tipo, uma coisa linda, um rapazinho impecável. Acho que o vou pôr ao pé do cesto da fruta, e pintá-lo assim. Ficava muita bem, o rapaz e o cesto da fruta.
É preciso é que a bófia não me apanhe.
Julho, 1601
Pumba, matei outro gajo. Eu qualquer dia vou preso. E ainda por cima pintei um quadro, mas um quadro muita giro, com um rapazinho muita bonito, a fazer de Dioniso, uma coisa linda. Mas começaram-me a chatear, "eh pá, ó Michelangelo, então tu pintas o Baco sentado em cima dum colchão, com as unhas todas sujas, então mas o que é isso, então mas tu parece que nem és pintor a sério nem nada" ... bem... não há paciência para estes ignorantes, né.
A ver se eu agora não mato ninguém, eu agora a ver se não mato ninguém!
Julho, 1610
Ai, ai, ai, que eu desta não me safo, ai que já matei outro gajo, ai a minha vida, ai a minha vida, mas a culpa não é minha, pois se eu nem me lembro de nada, entretido como estava lá no bar do Rubirosa, o tintol, o apelo daquele Dioniso que eu pintei, uma coisa linda... mas pronto, acho que já despachei mais uma alminha. Que mau. Desta é que vou fugir de vez, nem Roma nem nada, vou-me embora daqui, tou farto de me dizerem que não conseguem ver o que eu pinto, que é tudo escuro, ou então que é feio, e que eu pinto Nossas Senhoras feias, qué aquilo, tão gorda, e que não sei pintar a Ceia em Emaús, e a mão do discípulo tá muito grande, e não sei nada de perspectiva, bem! Que ignorantes! E depois admiram-se de eu andar por aí a matar gente.
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