quarta-feira, 8 de julho de 2009

Este blog é, definitivamente, para velhos


Tive a grande sorte, oportunidade e tempo para ir ver Neil Young ao vivo em Hyde Park, a semana passada. Foi um gosto, um concerto maravilhoso. Mal entra em palco, o velhote e roqueiro Neil, de longos cabelos grisalhos e T-shirt descomposta, pega na guitarra e arranca com os acordes de Hey,Hey, My, My ("rock and roll will never die!", gritava toda a gente, porque a canção assim o exigia), num rock absolutamente desenfreado. Uma maravilha. Tinham-me dito que o Neil era o pai do grunge, e fiquei a perceber porquê. Depois, todos os músicos que o rodeavam eram igualmente velhos. Até a menina do coro, de mini-saia e rabo-de-cavalo, era velha. E tocavam, tocavam, tocavam, sem parar e impecavelmente - o espectáculo deve ter durado duas horas e tal, compensando, e mais que recompensando, cada cêntimo (ou melhor, "penny") que se pagou.
No final, depois de ter atacado soberbamente o imprescindível "rockin' in the free world", e quando eu já pensava que o Neil se ia deitar, este último, ao invés de se retirar, começa a tocar os acordes de A Day in the Life, fundamental canção do fundamental Sargeant Pepper's. Começa tudo a cantar desenfreadamente, e eu muitíssimo empenhada a competir com as gargantas inglesas, que, há que reconhecer, sabem os Beatles de cor e salteado, e ainda bem. Ora, acontece que esta canção tem dois "momentos" - um primeiro "momento", escrito por John Lennon, que dá lugar a um segundo "momento", bastante diferente, escrito por Paul McCartney. Quando Neil se aproxima do tal segundo "momento" ("woke up, got outta of bed, dragged a comb acrossed my head..."), surge uma figurinha à boca de cena, vestida de cinzento. A princípio, ninguém sabe quem ele é. Depois, a figurinha aproxima-se do Neil e começa a cantar com ele. Nada mais nada menos do que o próprio Paul McCartney. Ao vivo. A cores. Em palco. A cantar a sua linda canção. Com o Neil.
Bem. Não há palavras que descrevam isto. Não posso evitar soar como uma adolescente e dizer que foi, verdadeiramente, o "delírio", porque ninguém sabia que o Paul ia fazer esta surpresa. Dois velhadas a rockar, magnificamente.
E eu, que nunca gostei muito, muito, do Paul McCartney a solo, eu que dizia que vê-lo ao vivo não era verdadeiramente importante, eu que dizia isto e aquilo, ao vê-lo ali, tão surpreendentemente, a cantar Beatles, foi de estarrecer. Só não chorei porque enfim, chorar não é o meu estilo.
Impecável. Grande Neil Young. Querido Paul McCartney. Este blog é, definitivamente, para velhos.

2 comentários:

José Bandeira disse...

Aqui em casa comprou-se há dias um gira-discos. O primeiro LP que ali girou (e nem foi por sugestão minha) foi o Abbey Road. Ah, isso da saudade. :o)
jb

Rita F. disse...

Um gira-discos! Há quanto tempo não vejo uma preciosidade dessas...
E que excelente escolha. Se eu tivesse um álbum favorito dos Beatles, seria com certeza Abbey Road. Nunca ouvi nada que encha o ouvidinho da mesma forma. Uma perfeição. :)
A saudade é uma bitch, ah pois é (que forma tão deselegante de terminar o comentário).