quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Que me metam entre cobertores e não me façam mais nada, que a porta do meu quarto fique para sempre fechada...

Metade da minha vida é passada com sono.
Acordo com sono, vou trabalhar com sono, almoço, fico cheia de sono depois do almoço, os cafés não têm qualquer efeito em mim, passo a tarde com sono, chego a casa com sono, tomo café outra vez, e mesmo assim janto com sono.
Só não tenho sono imediatamente após o jantar. É o único momento da minha vida em que não tenho sono nenhum.
Vejo televisão e não tenho sono.
Leio e não tenho sono.
Ouço música, ouço os vizinhos aos berros, os vizinhos calam-se finalmente e vão dormir, tudo finalmente silencioso, e eu ainda sem sono.
Até quando adormeço, não tenho sono. Acordo no outro dia, desta vez cheia de sono, sem saber bem como adormeci. Espera-me um dia repleto da vontade terrível e cruel de fechar os olhos e descansar, e porém sem o poder fazer.
As pessoas falam comigo e eu só peço que se calem, já que sou perfeitamente incapaz de compreender o que dizem, acontece-me tantas vezes as pessoas falarem comigo e eu a desesperar-me, porque me esqueci daquilo que disseram há dois segundos, distraída que estava, quase sonâmbula. Já estou assim há alguns anos, e portanto hoje em dia já quase toda a gente que conheço se aborreceu comigo, de modo que não tenho amigos, nem conhecidos, nem nada, passo a vida ostracizada e cheia de sono.
Tinha uma amiga que era assim. O caso dela foi ainda pior. Tinha insónias de tal modo agudas que passava a noite em claro. Morria de sono o dia todo.
Deixou de ter energia mórbida para fazer exercício físico mórbido e ficou ela obesa mórbida.
Deixou de ir de carro para o emprego porque teve dezenas de acidentes por adormecer ao volante.
Deixou de ir ao emprego porque não se conseguia levantar de manhã. Foi despedida.
Ficou sem rendimentos. Perdeu a casa. Perdeu o carro estampado. Foi viver com os pais. Engordou ainda mais. Ficou sem poder sair de casa. Continuou sem dormir, embora não tenha a certeza, deixei de me dar com ela.
É essencial saber vencer a insónia.

3 comentários:

ecila disse...

ha ha ha, identifico-me muito com este post. Acho que sou uma pessoa-morcego ou uma espécie de bizarro-cinderela em que as coisas só fazem sentido pós meia-noite (antes disso a minha cabeca é uma abóbora).

Conde-Lírios disse...

O Mário não tinha sono, apenas vontade de dormir:)
Ajeita lá os "conbertores" do "títalo":)
No resto, um excelente post e sim, é essencial sabermos vencer a insónia.

Rita F. disse...

Gostei dessa imagem da cabeça que é uma abóbora...

Obrigada pelo alerta, Conde-Lírios. Emendado.