Sempre que pensava estar apaixonada, escrevia muitas cartas; enviava algumas, não enviava outras, mas escrevia sempre muitas. Já nessa altura sabia que Fernando Pessoa as considerava ridículas, mas eu discordava em absoluto. As minhas cartas de amor eram profundas e filosóficas, cheias de verdades importantíssimas sobre a vida e os sentimentos, e seriam tudo menos efémeras. Ou, pelo menos, eu assim pensava, naquela altura.
É evidente que a grande tristeza de crescer é compreender que a verdade está não nas minhas cartas de amor que o tempo levou, mas antes em Fernando Pessoa. É claro que todas as cartas de amor são ridículas, e não só, as minhas em particular ainda são mais, porque as escrevi com a arrogância da convicção de que não eram ridículas. Resta-me a consolação de saber que também eu recebi algumas cartas de amor, e que também estas foram ridículas. De modo que foi troca por troca, o que é simpático refrigério.
E compreendo agora que tudo o que tenha a ver com sentimentos, mimosos estados de alma e doces amores, se reveste de um ridículo que eu não consigo discernir de onde vem, mas que existe. Não estou a falar sequer da parafernália grotesca do S. Valentim, estou a falar de coisas normais, de ver duas pessoas apaixonadas a olhar uma para outra e termos de desviar a cara para não nos sentirmos envergonhados por elas. Devíamos aplaudi-los, e no entanto ficamos ali, contrafeitos, embaraçados, desconfortáveis. Excepto, é claro, quando somos nós os pombos apaixonados, e envergonhamos nós os outros.
Não percebo porque é que o amor tem de ser ridículo, mas o que é certo é que o é. Mesmo. No entanto, talvez este ridículo seja necessário ao amor. O fofinho, o queridinho, tem de fazer parte do amor, mesmo que depois, enfim, a pessoa entre em expiação e compense com uma data de filmes suecos ou qualquer outra coisa que provoque sofrimento e pessimismo, para que o equilíbrio se restabeleça. Mas o fofinho é necessário ao amor.
Eu, porém, cortei com as cartas de amor. São, efectivamente, ridículas. O fofinho não tem de ir tão longe.
É evidente que a grande tristeza de crescer é compreender que a verdade está não nas minhas cartas de amor que o tempo levou, mas antes em Fernando Pessoa. É claro que todas as cartas de amor são ridículas, e não só, as minhas em particular ainda são mais, porque as escrevi com a arrogância da convicção de que não eram ridículas. Resta-me a consolação de saber que também eu recebi algumas cartas de amor, e que também estas foram ridículas. De modo que foi troca por troca, o que é simpático refrigério.
E compreendo agora que tudo o que tenha a ver com sentimentos, mimosos estados de alma e doces amores, se reveste de um ridículo que eu não consigo discernir de onde vem, mas que existe. Não estou a falar sequer da parafernália grotesca do S. Valentim, estou a falar de coisas normais, de ver duas pessoas apaixonadas a olhar uma para outra e termos de desviar a cara para não nos sentirmos envergonhados por elas. Devíamos aplaudi-los, e no entanto ficamos ali, contrafeitos, embaraçados, desconfortáveis. Excepto, é claro, quando somos nós os pombos apaixonados, e envergonhamos nós os outros.
Não percebo porque é que o amor tem de ser ridículo, mas o que é certo é que o é. Mesmo. No entanto, talvez este ridículo seja necessário ao amor. O fofinho, o queridinho, tem de fazer parte do amor, mesmo que depois, enfim, a pessoa entre em expiação e compense com uma data de filmes suecos ou qualquer outra coisa que provoque sofrimento e pessimismo, para que o equilíbrio se restabeleça. Mas o fofinho é necessário ao amor.
Eu, porém, cortei com as cartas de amor. São, efectivamente, ridículas. O fofinho não tem de ir tão longe.
1 comentário:
Que horror! (no melhor dos sentidos!)
Passei a tarde a ler posts deste blog!
Enviar um comentário