domingo, 8 de novembro de 2009

O artista é um bom artista

Espero ansiosamente por qualquer estreia dos Irmãos Coen - A Serious Man, neste caso. Alguns filmes são melhores do que outros, já se sabe, e daí estes realizadores passarem do 8 ao 80 aos olhos da crítica - tanto são adorados com Fargos, Este País..., Bartons Finks, como são vilipendiados com Lady Killers, Burn After Reading e até (esta, sinceramente, não percebo), o magnífico Oh Brother Where Art Thou, que eu adoro, mas acerca do qual nunca li críticas tão entusiastas como deveria haver (quando Este País... estreou, cheguei a ler uma crítica em que se dizia que os Coen tinham, finalmente, feito o seu primeiro grande filme desde Fargo. Infelizmente, não consegui encontrar esta pérola na internet para postar aqui, mas tenho a certeza absoluta de ter lido tal monstruosidade, penso que no Público; no entanto, como digo, não posso provar).
Há pessoas que já fizeram coisas tão boas que não precisam de comprovar constantemente a sua genialidade. Tudo o que fazem que não é uma obra-prima é, pelo menos, bom. Os Irmãos Coen (tal como o Woody Allen, o Tim Burton ou o Nick Cave, quanto a mim) são exemplos paradigmáticos desse tipo de pessoas. Nunca vi nada deles que não merecesse ser visto.
Também gosto daquele tipo de artistas que recompensa o público. Adoro quando o Woody Allen recheia os seus filmes mais recentes com diálogos e citações de filmes anteriores, como que a piscar o olho àqueles que reconhecem de imediato a referência; gosto quando Nick Cave conta uma história do princípio ao fim nas suas canções, terminando numa apoteose (daí coisas como Stagger Lee serem fabulosas, na escalada narrativa e de violência que oferece); gosto quando os irmãos Coen pegam num elenco reduzido, em cenários simples, em narrativas vindas do noir, contadas anteriormente centenas de vezes, e conseguem um diamante perfeito como este:




ou:





The Man Who Wasn't There é, visualmente, dos filmes mais bonitos que existe. Esta foto aqui acima parece quase retirada do Citizen Kane. Além disso, tem o Billy Bob Thornton a fumar da forma mais estilosa que já vi, em, literalmente, todas as cenas. Deve ser dos filmes em que mais se fuma, mais ainda do que os originais noir que serviram de inspiração. E que bem que se fuma neste filme, é uma beleza...
Tal como este Nick Cave, cheio de pinta, a destilar pinta, diria até, é também uma beleza, a cantar Stagger Lee.
O artista que é um bom artista, mesmo que tente, nunca consegue deixar de ser bom. E, como diz Truman Capote, se isso é uma vantagem, também não deixa de ser um chicote, permanente a exigir mais.


2 comentários:

Woman Once a Bird disse...

Confesso que os Cohen não me mereceram até agora muito entusiasmo,muito provavelmente porque nunca me interessei o suficiente.
Agora, a confissão anterior não se aplica de todo ao que escreverei de seguida: tenho absoluta e vergonhosa devoção por Nick Cave e a música com que nos tem vindo a premiar ao longo dos anos.

Rita F. disse...

Woman Once a Bird, não me parece que devoção pelo grande Nick possa ser vergonhosa. :)