Os Domingos são os dias mais moles de sempre. Tudo é mole e flácido num Domingo, mesmo o tempo - se o sol brilha, os raios emanam aquele calor que derrete na pele, pegajoso; se está chuva, caem gotículas húmidas e cerradas do céu, que empapam tudo, oleosas.
As ruas estão desertas, e quem decide andar a pé vai vagarosamente, preguiçosamente; os olhos das pessoas são inexpressivos, inertes, moles, tudo é mole.
É impressionante. Não conheço dia mais aborrecido, onde o tédio se respira no próprio ar.
As crónicas do Lobo Antunes ilustram este sentimento de inutilidade e moleza dos Domingos exemplarmente - o homem que se perdia nos centros comerciais e ia para casa com uma mulher igual à sua, que porém não era a sua, e só descobria o erro já a semana ia a meio; e o outro homem que temia os Domingos, numa companhia forçada e quase desesperante com a mulher, que lhe falava de frangos assados e microondas a prestações, e o homem já a desejar voltar ao trabalho, à repartição, para ao menos pensar noutras coisas que não microondas e marquises.
Os Domingos são feitos disto - marquises, frango assado, centros comerciais, seats ibiza, pastelarias vazias, céu cinzento, rua molhada e escorregadia, unhas descascadas, pipocas no cinema repleto de adolescentes, música de elevador, renatos rafael, marcos paulos, preguiça, preguiça, tédio, moleza.
Uma supremíssima moleza.
1 comentário:
Este está mt bom.
IDA (ainda sem saber se e para qd a vinda).
bj
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