quarta-feira, 18 de novembro de 2009

No princípio, eram verbos como este...

D. DINIS

CANTIGA D'AMIGO


Levantou-s' a velida
levantou-s' alva
e vai lavar camisas
eno alto:
vai-las lavar alva.

Levantou-s' a louçana
levantou-s' alva
e vai lavar delgadas
eno alto:
vai-las lavar alva.

(E) vai lavar camisas,
levantou-s' alva;
o vento lhas desvia
eno alto:
vai-las lavar alva.

E vai lavar delgadas,
levantou-s' alva;
o vento lhas levava
eno alto:
vai-las lavar alva.

O vento lh'as desvia;
levantou-s' alva;
meteu-s' alva en ira
eno alto:
vai-las lavar alva.

O vento lh'as levava;
levantou-s' alva;
meteu-s' alva en sanha
eno alto:
vai-las lavar alva.

D. Dinis

Encontrei a transcrição aqui, neste belo blog, que figura também na listinha à direita, e onde se pode encontrar a "tradução" do mesmo poema para português moderno, de Natália Correia. Está aqui o princípio de tudo - da música, da poesia, da literatura, do português. Quer dizer, o princípio está em nós. Poemas como este de D. Dinis talvez sejam, digamos, a "verbalização", e essa, nem todos a conseguem fazer. Só os grandes.

2 comentários:

ecila disse...

Li a traducao da Natália Correia, mas gosto muito mais do original de D. Dinis que publicaste. Engracado, apesar de nao entender bem o que diz, acho lindo.

O que me faz pensar que a lingua portuguesa é capaz de já ter sido mais poética do que é hoje, lá no princípio :)

Rita F. disse...

Ecila, não podia concordar mais! A mim acontece-me exactamente a mesma coisa - apesar de não entender bem toda a linguagem, acho lindo.
Só acho é que o português ainda continua muito poético, felizmente. :)