terça-feira, 13 de abril de 2010

Quem vive em ilhas, compra um cão


Eu passo a vida com a algo incómoda sensação de que, a mim, e excepto insónias permanentes e enervantes, nunca acontece nada.
No entanto, em retrospectiva, acho que até me aconteceram muitas coisas. Umas más, outras boas, mas aconteceram. E porém, permaneço no mundo como aquela pessoa a quem nunca acontece nada. Não faço as coisas acontecer. Às vezes, olho para os outros e parece-me que os estou a observar à distância. Sei que as pessoas vivem com problemas, angústias, alegrias, mas sinto que tudo isso se passa numa redoma na qual não me incluo.
Talvez seja por isso que goste de ilhas. Sinto que me posso aninhar, numa ilha. Há algo de estranhamente reconfortante em saber que o resto do mundo está a milhas, separado por uma imensidão de água. E as coisas não me acontecem, em ilhas.
Talvez seja também por isto que os meus amigos (aqueles que estão em ilhas comigo) me dizem, "tu arranja mas é um cão, pá, que é para ver se aprenderes o que é tratar de alguém".
Tenho de arranjar um cão. Urgentemente.

2 comentários:

Destination disse...

"Não faço as coisas acontecer"... esta é a diferença entre ti (eu incluo-me no grupo!) e os outros a quem parecer sempre acontecer tudo e mais alguma coisa...

Rita F. disse...

Eu gosto de pessoas a quem as coisas acontecem normalmente. Aquelas a quem parece acontecer tudo é sempre de desconfiar. Deve acontecer mais na cabeça delas do que noutro lugar qualquer, o que já não é nada mau, porque a força da mente impõe respeito.