domingo, 18 de abril de 2010

O meu país estranho e seu cheiro a sovaco


Envelheço.
Descubro um fascínio inaudito, ainda mais profundo, por Cesário Verde, António Nobre, José Malhoa, Amália, procissões, saias de nazarenas, galos de barcelos, santos antónios (estátuas, não as fogueiras), meninos jesus gorduchos, fado, aventais, bairros altos. Sorrio, quase melancólica, ao ver as hordas de jovens mal vestidos a cheirar a cerveja velha que percorrem a estreiteza do Bairro Alto. Com grande esperteza e alguma piada, Jorge de Sena dizia, no seu "incontornável" poema A Portugal, que este país está repleto de poetas tão sentimentais "que o cheiro de um sovaco os põe em transe"; eu estou ainda pior - o Bairro Alto cheira a sujidade, a álcool barato, a ganza, a juventude errónea, e eu encanto-me. E nem sequer sou poeta, sentimental ou não. E porém, encanto-me.
Envelheço, agora sem a mais pequena sombra de dúvida.
Encanta-me o país pequenino com erros de ortografia. Senhoras Nagonias. Que é dos pintores do meu país estranho, onde estão eles que não vêm pintar? Agora e sempre, António Nobre.
Estou mesmo velha.

E talvez tudo isto se deva à exposição da Joana Vasconcelos no CCB. Os corações de Viana com a voz da Amália por trás arrasam qualquer um. É a portugalidade que nos invade. Seja lá o que "portugalidade" queira dizer.

2 comentários:

Ana disse...

Esse último parágrafo diz tudo.

Rita F. disse...

A exposição está lindíssima. Mas os cães de loiça não estão lá, com grande pena minha. :D