Li aqui (um blog lindo!) o seguinte excerto de uma entrevista a Stanley Kubrick, a propósito da Laranja Mecânica:
Q. Alex loves rape and Beethoven: what do you think that implies?
Quando li, lembrei-me daquele texto incontornável de Almada Negreiros, que entra numa livraria, conta os livros e os anos que tem para viver e chega à conclusão de que nem para metade da livraria tem tempo. E que a salvação tem de estar noutro lado.
Não está nos livros, nem na música, nem em Beethoven, ou Wagner, ou sushi e caviar, ou Dior e Chanel. A questão, porém, é que a salvação também não estará, com toda a certeza, em Ágata e Emanuel, Paulo Coelho e Nicholas Sparks.
Talvez tenha de me resignar ao facto de a arte não servir para nada. E o seu valor residir nisso, em não servir para nada. Quer dizer, serve para nos fazer sentir melhor, o que é importantíssimo, mas talvez não tenha, efectivamente, um propósito social e político de maior.
E porém, esta inocência, ou imunidade, da arte é algo que me recuso a aceitar. O estético pelo estético, que Harold Bloom diz definir o cânone, não pode ser aceite como inocente, resguardado, separado do mundo e das vidas dos homens, que incluem, essas vidas, o bem e o mal. Tal como a arte.
Onde estará, então, a salvação? Aguarda-se e agradece-se rapidez na resposta. Sem outro assunto, subscrevo-me atenciosamente.
Q. Alex loves rape and Beethoven: what do you think that implies?
Stanley Kubrick: I think this suggests the failure of culture to have any morally refining effect on society. Hitler loved good music and many top Nazis were cultured and sophisticated men but it didn’t do them, or anyone else, much good.
É aterrador. Kubrick tem razão.Quando li, lembrei-me daquele texto incontornável de Almada Negreiros, que entra numa livraria, conta os livros e os anos que tem para viver e chega à conclusão de que nem para metade da livraria tem tempo. E que a salvação tem de estar noutro lado.
Não está nos livros, nem na música, nem em Beethoven, ou Wagner, ou sushi e caviar, ou Dior e Chanel. A questão, porém, é que a salvação também não estará, com toda a certeza, em Ágata e Emanuel, Paulo Coelho e Nicholas Sparks.
Talvez tenha de me resignar ao facto de a arte não servir para nada. E o seu valor residir nisso, em não servir para nada. Quer dizer, serve para nos fazer sentir melhor, o que é importantíssimo, mas talvez não tenha, efectivamente, um propósito social e político de maior.
E porém, esta inocência, ou imunidade, da arte é algo que me recuso a aceitar. O estético pelo estético, que Harold Bloom diz definir o cânone, não pode ser aceite como inocente, resguardado, separado do mundo e das vidas dos homens, que incluem, essas vidas, o bem e o mal. Tal como a arte.
Onde estará, então, a salvação? Aguarda-se e agradece-se rapidez na resposta. Sem outro assunto, subscrevo-me atenciosamente.
3 comentários:
Eu não diria q a arte "serve para nos fazer sentir melhor", diria antes q serve para nos fazer ser (ou estar...) melhor.
Onde estará, então, a salvação?
Em pequenas coisas, para mim por exemplo esteve em ir hoje à FNAC e verificar que "As Benevolentes" está a dezoito euros e por isso amanhã depois do almoço vou finalmente comprá-lo.
E vem muito a propósito do seu post porque ele (Littell)diz numa entrevista ao Público
"A cultura não nos protege de coisa nenhuma, Os nazis são a prova disso. Pode sentir-se profunda admiração por Beethoven e ler o "Fausto" de Goethe, e ser-se uma porcaria de ser humano.
Não existe ligação directa entre a cultura com C maiúsculo e as opções políticas."
E como a intervenção vai longa e os seus posts ligam-se muito bem uns com os outros aproveito para dizer que tenho aqui há vários meses Lady Vengeance para ver e graças à sua apreciação vai passar um bocadinho para a frente dos outros.
E agora o intervalo para publicidade e anunciar que vi hoje um pequena maravilha que será, se houver inspiração, comentado breve no meu blog.
E agora sim, adeus até ao meu regresso.
Rui, o argumento de Kubrick é de que a arte não serve para sermos melhores. Por isso é que é tão aterrador. Espero que tenhas razão, é o que posso dizer (incontornavelmente :) ).
Fado, o que Littell diz e que fez o favor de citar é tal qual o que diz Kubrick. Mas, como digo, eu tenho esperança que não seja exactamente assim.
Quanto a Lady V., espero que goste. Já viu Old Boy? Esse é que é imperdível!
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