terça-feira, 27 de abril de 2010

Gramáticas


Este livro, A Concise Chinese-English Dictionary for Lovers, é uma pequena delícia. É mesmo assim que o quero descrever. É um doce "cupcake" em forma de livro. Trata da história de Z, uma jovem chinesa que vai viver para Londres para aprender inglês e acaba por se apaixonar por um homem mais velho, com uma vida inteira atrás. Ainda não acabei de ler, mas já suspeito que vai tudo acabar em tragédia.
O maior interesse do livro não é a rápida história de amor. É a forma como Z procura descrever tudo o que vai experimentando e sentindo em inglês, ao invés da sua língua materna, o chinês. Uma vez que Z quase não percebe inglês, mas tem um desejo incendiário de aprender tudo e saber todas as palavras, fazendo-se sempre acompanhar por um precioso dicionário, o seu processo de aprendizagem emocional é absolutamente paralelo à aprendizagem linguística.
A beleza deste livro está na premissa bonita de que a linguagem emoldura e define tudo o que sentimos e vivemos. Sem linguagem, não há pensamento, porque tudo o que pensamos tem de ser verbalizado. Esta hipótese foi desenvolvida por Sapir e Whorf que, com a sua famosa, e até certo tempo popular, teoria da relatividade linguística, disseram que ninguém vê as ondas do mar da mesma maneira.
De alguma forma, esta simpática e doce teoria, que eleva a linguagem aos píncaros, e que a torna a rainha de todas as percepções de todos os mundos, caiu em desgraça. Mas a Z, deste livro que estou a ler, concordaria com certeza com este poder essencial da linguagem, ela que vai aprendendo o mundo em que vive à medida que o verbaliza, conseguindo pérolas de sabedoria como:

Chinese, we not having grammar. We saying things simple way. No verb-change usage, no tense differences, no gender changes. We bosses of our language. But, English language is boss of English user.

É verdade, concordo com a Z. E, baixinho e em segredo, concordo com Sapir e Whorf. Ninguém vê as ondas da mesma maneira, tanto que há pessoas baixas e pessoas altas, de modo que os baixos vêem golfadas que vêm para os engolir e os altos vêem grandes poças de água. A gramática, nestas alturas, varia muito e é de facto grandemente relativa.