sexta-feira, 23 de abril de 2010

...dir-te-ei quem és?

Ofereceram-me um livro de contos da Katherine Mansfield (uma querida amiga, que já não vejo há uns tempos; resta dizer que me ofereceu o livro também há uns tempos); na contra-capa, podia ler-se que, entre vários outros excelsos talentos de Katherine, um deles avultava, e que era o ter sido amiga de D. H. Lawrence e de outro qualquer que não me lembro. O Lawrence atraiu-me mais, porque dantes eu era verdadeiramente uma groupie do D. H. Mas adiante, que isso foi há tempos idos e eu não vou estar agora a retomar, muito menos relatar, cavalgadas passadas.
Dizia, a Katherine Mansfield vinha recomendada por ter sido amiga do D. H. Lawrence. Pergunto-me se isto tem alguma coisa a ver com o eventual talento literário da senhora. A não ser que a qualidade literária se pegue na mesma medida que nesse tempo se pegava a sífilis ou a tuberculose ou a escarlatina ou sei lá.
Nunca confiei muito naquele provérbio piroso (há tantos provérbios pirosos que nem sei por onde começar) que dita "diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és". Acho uma injustiça e, se encerra alguma verdade, esta será, com certeza, muito, muito, muito parcial. Parcialíssima.
A não ser que escolhamos as pessoas por quem nos apaixonamos (os amigos incluem-se no grupo das pessoas por quem nos apaixonamos), isto de alguém ser amigo do outro não me diz mesmo nada. A não ser que seja alguém amigo do Hitler - aí, abro uma excepção.
E porém, de certa forma, acabamos de facto por escolher os nossos amigos. Controlamos o coração de alguma forma.
Isto para dizer que o facto de a Katherine Mansfield ter sido amiga do D. H. Lawrence é absolutamente indiferente para a minha apreciação, e até gosto, por aquilo que ela escreve. Diz-me com quem andas e quanto muito digo-te o que queres da vida, mas não mais do que isso.

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