quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Necessidade de apimentar

Uma vez, fui passear com um amigo e fomos dar a uns penhascos, por acaso bem giros, de onde se via o mar. Acontece que eu estava de botas de salto alto, mas a culpa não era minha, porque a verdade é que, com a minha infinda esperteza, me tinha esquecido de trazer uns ténis ou isso. E lá andava ele a saltitar por todo o lado, e eu especada feita parva, no meio da pedra e da rocha, a tentar calcular onde poderia encaixar o salto sem cair e sem me desgraçar toda. Não dava. Fiquei parada a olhar para o mar.
O meu amigo, que era mesmo só meu amigo e felizmente ainda é, ficou a olhar para mim com um ar tão agastado que eu nunca o poderei esquecer, e ainda rematou "ainda bem que não és minha namorada!".
Tudo bem - sim, eu estava numa situação parva por não ter sabido usar calçado decente, sim, eu estava numa figura parva completamente desnecessária, sim, eu parecia daquelas pessoas sebosas que só sabem ir de carro para todo o lado e nunca se mexem, sim, provavelmente não seria a mulher dos sonhos de ninguém numa situação daquelas. Mas, sinceramente, há certas verdades que custam a ouvir, mesmo que venham da boca de um amigo, que tem o direito, e até o dever de nos dizer a verdade sem rodeios nem contemplações.
Por alguma razão, este tipo de verdades custa sempre a ouvir, mas custa ainda mais se vem da parte de amigos do sexo oposto. Não sei bem se partilho da teoria do filme When Harry Met Sally, filme de que por acaso gosto muito e que advoga que um homem e uma mulher não nunca  poderão ser amigos sem acabarem enrolados; mas, mesmo não partilhando inteiramente desta teoria, há um certo apreço que gostamos de notar por parte dos amigos de sexo oposto. Não tem de ser nada de concreto, nem sequer significativo, mas é bom que lá esteja. Assim qualquer coisinha para apimentar, é só. Uma pimentinha inocente. 
Pimentinha essa que, como se vê, está bem ausente quando um amigo se vira para nós e, com toda a sinceridade e até, estranhamente, com amizade, nos diz que para namorada, nem pensar. Pronto. A verdade, como a vida, é uma cruz. O que vale é que as verdades são também como as opiniões, dependem muito de pessoa para pessoa e de homem para homem. A verdade de um é a mentira de outro, e é assim que a gente se vai safando.

3 comentários:

Brandie disse...

Eu concordo, é bom sentirmos que somos atraentes, até mesmo para alguém que apenas não avança porque tem outro estatuto na nossa vida. E enquanto ficar por isso mesmo acho uma certa graça.

AR disse...

Concordo mesmo com o que dizes. E tenho algumas "discussões" com amigos rapazes sobre essa história de amizade verdadeira e desinteressada entre gente de sexos opostos.

fado alexandrino. disse...

Sobre o post há apenas a dizer, é verdade um homem vê sempre uma amiga como uma potencial e futura conquista. É a natureza a falar.
Mesmo esse explorador intrépido no fundo mesmo que o não admitisse e essa negação é a maior afirmação pensava-o.
O que interessa aqui é o filme.

É muito bom o que não é de admirar tendo a Meg Rayn. Ora como toda gente se lembra ela faz um "fake orgasm" sentada à mesa de um café.
Isto é uma lição para todos os homens. A eterna pergunta "foi bom?", está aqui respondida.