sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Mas o melhor do mundo são as crianças

Agora que saiu aquele filme sobre o facebook, vejo muitas pessoas a dizer "ah, o facebook para mim não, nunca lá vou, a gente põe lá coisas e eles ficam a saber tudo", e tal e coisa. Mas depois até estes críticos têm perfil no fb, fotografias, comentários, enfim, um tímido arremesso ao que a sua vida seria se conseguissem ser capa de revista. São assim as contradições humanas.
Mas não é o facebook que me traz hoje aqui. Não seria preciso nada em concreto para me trazer aqui, mas na verdade há uma coisa em particular, e que é este filme que figura aqui ao lado, o Laço Branco, que vi há uns dias em DVD, infelizmente, em vez de o ter apanhado no cinema. Não gostei nada do fim, achei que de alguma forma era bastante preguiçoso e que Michael Haneke se devia ter preocupado mais em finalizar a história com coesão do que seguir uma linha mais solta, do estilo "agora tomem vocês a decisão final que eu não estou para aqui com finais à Hollywood, e isto é um filme sério". Há muito preconceito contra certos formatos de cinema hollywoodesco, e não vejo razão nenhuma de ser nos mesmos preconceitos. Mas enfim, excepto o final, gostei bastante deste Laço Branco, porque me impressionou.
Não há nada pior do que crianças corrompidas, crianças em que cresce já alguma deformação moral, alguma  propensão para o Mal. Em O Laço Branco, são os pais, eles próprios castigadores, reprimidos, violentos e pura e simplesmente más pessoas, que criam as condições para que germinem ervas daninhas, contrárias ao que está certo. Estas ervas daninhas são as crianças. É uma perspectiva terrível, pensar em crianças que, em vez de inocentes, são já culpadas. Mas acontece, ou pode acontecer, quando nascem em comunidades erradas, de pais errados. Também é assustador pensar nisto, no facto de poder haver "pais errados". Mas, mais uma vez, acontece. E as consequências não são mais do que inevitáveis e devastadoras.
Até nos filmes de terror, o que mete mais medo são sempre as crianças, quando há para lá uma que se lembra de ser maluca, ou vingadora, ou de olhos esbugalhados, ou sei lá que mais. Há um filme antigo, "The Village of the Damned", em que as crianças são uns pequenos monstros implacáveis. O que é terrível é que não se pode nunca lutar contra isto. Não se pode nunca lutar contra uma criança porque, se não há inocência nas crianças, não há inocência nem integridade em mais lado nenhum. E foi nisto que pensei quando vi O Laço Branco, e foi por isso que me impressionou.
Fim.

1 comentário:

Woman Once a Bird disse...

Vi-o num festival de cinema, há alguns meses. Também fiquei bastante impressionada com o argumento, que afinal não nos é tão estranho quanto isso. Quem trabalha numa escola sabe que existem crianças assim, apesar de todos os lirismos que se tentam vender - as crianças não mentem, ou então de que são inocentes. As crianças não são nem uma coisa nem outra:são, tal como os adultos, permeáveis aos estímulos que recebem. E este filme espelha-o particularmente bem.

PS: Curiosamente, não me recordo em absoluto do final do filme.