domingo, 17 de janeiro de 2010

Whatever happened to Kevin Smith

Há casos em que a abundância de dinheiro só prejudica, e a falta dele obriga a esforços criativos que obtêm resultados muito interessantes.
Estou a lembrar-me dos Gato Fedorento na SicRadical, quando apenas tinham dinheiro para o bigode postiço.
Estou fundamentalmente a lembrar-me do realizador Kevin Smith, cujo filme mais mainstream foi provavelmente o Dogma, que é uma grande seca; no entanto, Kevin Smith realizou belíssimas comédias nos seus tempos de independente da Nova Jérsia, tudo de baixo orçamento, mas competentíssimas. A acção passava-se sempre num mundo familiar, de amigos que conheciam outros amigos e que tinham andado todos na mesma escola, uma vidinha pequenina de subúrbio onde as coisas bonitas que os filmes têm a mania de engrandecer, como o amor ou as pequenas desilusões, eram todas vistas de uma forma normal, de rotina. Em suma, apesar de fazer filmes em New Jersey, o universo destes filmes de baixo orçamento eram muito familiares ao comum dos mortais, apesar das personagens e das situações loucas que conviviam com a tal normalidade de subúrbio.
Mallrats, por exemplo, passa-se todo dentro de um centro comercial, assim se demonstrando como Saramago tinha razão ao escrever a sua "Caverna" - de facto, quando se está no centro comercial, o mundo lá fora esbate-se até se apagar por completo. Clerks contava as peripécias de uma estação de serviço e dos indivíduos que lá trabalhavam; Chasing Amy, ao contrário de Mallrats muito elogiado pela crítica, é um filminho adorável em que um muito jovem Ben Affleck se apaixona por uma rapariga lésbica, tendo os dois de gerir a situação com todas as suas alegrias e complicações. Muito menos limpinho que When Harry Met Sally, e quase tão giro.
Porém, agora que os estúdios se renderam ao talento independente, habituado a gerir pouco dinheiro, de Kevin Smith, este último realizou o Dogma e, entre outras coisas, uma coisa também com Ben Affleck, chamada Jersey Girl e que, a julgar pelo trailer, chuif, chuif. Também fez a sequela do Clerks, e por acaso o trailer até está engraçado, mas, sinceramente, tenho medo de ver. Tenho um grande receio que me desiluda tanto que estrague o efeito dos filmes mais antigos (se alguém já viu e quiser deixar uma opinião, mil obrigados).
Da mesma forma que não compra a felicidade, o dinheiro também não compra, nem aumenta, talento, é o que tenho a dizer.



(O que me faz sempre rir neste trailer é a parte final, em que o Jay imita aquela cena do Silêncio dos Inocentes. Sei que não tem especial piada, mas o que posso fazer, se me rio sempre...)

2 comentários:

ecila disse...

Vi os dois Clerks e, apesar do segundo também ter algumas cenas hilariantes, nao chega aos pés do primeiro. Os dois valem a pena, só que, por exemplo, comprei o DVD do primeiro e nao compraria o do segundo. Para mim, o primeiro é mais verbal e o segundo mais visual, e eu gosto mais de piadas verbais (ainda que depois se auxiliem do visual para reforco). Achei piada, ri-me até bastante, mas nao achei ao mesmo nível.

No entanto, já ouvi outras opinioes no sentido de serem os dois qualitativamente equivalentes, o que é um bom incentivo para arriscar e ver. (nao me parece que isto te ajude grande coisa ;-)

Rita F. disse...

Ajuda, sim.
Talvez me aventure a ver o Clerks 2, então, embora a tua crítica me pareça muito certa. A piada do primeiro era, de facto, ser tão verbal, e se este é mais visual, talvez seja mais fraquito. Mas enfim, vou tentar. :)