sexta-feira, 12 de junho de 2009

Well, do ya, punk!



Como já tive oportunidade de dizer aqui, sou uma pessoa que vê séries de televisão. Normalmente, procuro ver séries muito boas, como os grandes Sopranos, que felizmente a FoxCrime está a repetir; por vezes, vejo séries que não são assim muito boas, nomeadamente CSI, Mentes Criminosas, Sem Rasto, Lei e Ordem. Fico sempre abismada, mas mesmo de boca aberta, com o conservadorismo extremo destas séries. Primeiro, partem sempre do princípio que os suspeitos são culpados. Levam-nos para a sala de interrogatórios, apertam com ele ou ela, insultam-no, e quando verificam que não são culpados (não podem ser, porque senão cada episódio só tinha 5 minutos), não pedem desculpa; encolhem os ombros e ficam muito zangados, porque ainda não apanharam o criminoso. Quando, efectivamente, apanham o criminoso, dizem que ele é "escumalha" e vai para a prisão por tanto tempo quanto o conseguirem lá pôr. Na Lei & Ordem, vi um episódio em que o procurador dizia que só não pedia pena capital para o arguido porque a lei daquele estado não permitia (olha que pena); no Mentes Criminosas, o investigador-chefe conseguia a confissão do grande criminoso; encostava-o à parede, "maniatava-o" e gritava-lhe ao ouvido algo como "quando te derem a injecção letal, vou estar lá coladinho ao vidro para me assegurar que morres mesmo, e que te vais juntar ao teu scumbag brother" (o irmão deste criminoso era outro criminoso que já tinha morrido). É mesmo a moderação e presença de espírito que nós, cidadãos do mundo ocidental, esperamos das forças de autoridade, não é?
Bom. Eu percebo que, nestes tempos conturbados, todos tenhamos sede de justiça, de disciplina, de autoridade. Eu própria sinto grande satisfação quando o polícia da série consegue apanhar o criminoso e o castiga merecidamente. E também percebo que estas séries de TV são apenas isso, séries de TV. Mas, numa altura em que se fala tanto da influência nefasta de jogos de computador, violência nos filmes e na TV, porque é que ninguém fala nestas séries, que, pelos vistos, apoiam abertamente a pena de morte, divulgam à exaustão a ideia de que todos os cidadãos são culpados até prova em contrário e vêem na prisão perpétua a solução para todos os crimes da Humanidade? Sinceramente, acho que mais facilmente deixaria um filho meu jogar GTA (e, já agora, aproveitava e jogava com ele também) do que ver uma série destas.
No entanto, não quero aqui exagerar. Quando saiu o Dirty Harry, do Clint Eastwood (ou apenas "com" Clint Eastwood?) também houve muito protesto, que aquilo era violento, de extrema-direita, que glorificava um polícia brutal a maltratar criminosos, etc. e tal. Eu devo admitir que gosto muito do Dirty Harry, e aque aquele diálogo icónico entre o Dirty Harry e o criminoso (do I feel lucky?) é memorável. Mas há uma diferença importante - o Dirty Harry é um filme e, conservador ou não, é um produto coerente e pensado. Estas séries são empacotadas para consumo rápido, e não têm, por isso, o mesmo nível de seriedade que um filme, conservador ou não.
Na verdade, é-me um tanto ou quanto indiferente o que estas séries, que se vendem aos pacotes, baratuchas, para serem distribuídas no mundo inteiro, dizem ou deixam de dizer. Duvido, até, que quem escreve as tais séries pense seriamente naquilo que está a produzir. Umas quantas linhas retumbantas para agradar ao povo e já está. No entanto, não deixa de ser um tanto ou quanto assustador. Para mim, pelo menos.

1 comentário:

Anónimo disse...

O que me faz mais espécie no CSI são aquelas mulas WASP quando levam os saltos altos para a lama das cenas de crime, sempre muito hirtas.