quarta-feira, 28 de outubro de 2009

There's something about Whitechapel (II)


- Hell's about right. I've seen it all here, lad.
Alligators waddling through the shit of the gutters
Albinos being led about on chains
Kids, no more than nine, having it off in broad daylight, probably with their sisters
Anybody in Whitechapel's yours for under a shilling.
D'you know, there's less than 250 lodging houses in Whitechapel? Housing 8500 people? 35, 40 people per house.


Este "romance gráfico" magnífico é dedicado a Polly Ann Nicholls, Annie Chapman, Liz Stride, Kate Eddowes e Mary Jean Kelly, pobres, desprotegidas, prostitutas, sem educação, sem-abrigo, sem família, verdadeiramente destituídas em todos os sentidos da palavra, e as cinco vítimas (asseguradamente - talvez haja mais) de Jack the Ripper.
Londres era, em 1888, e talvez seja ainda, uma cidade de uma riqueza extrema e de uma pobreza abjecta.
O caso de Jack the Ripper condensa muita coisa - opressão daqueles que não têm qualquer forma de protecção (pobres); fosso social profundíssimo entre pobres e ricos; abuso de poder; completa sujeição da mulher ao homem; a sensação, ambígua, pouco concreta, quase inefável, mas no entanto presente, de que algo trágico, ou fracturante, está mesmo para acontecer, nos meandros de tanta miséria repugnante, lado a lado com tanta riqueza.
Hoje, o East End londrino, o mesmo que albergou os crimes do Ripper, e tantos outros que a história escolheu não registar, e que no fim da II Grande Guerra era ainda um imenso bairro de lata onde se passava fome, devastado pelas bombas do Eixo, é hoje, cada vez mais, uma agradável zona muito artística, cheia de cafés, pubs, estudantes, artistas de rua, e onde as rendas disparam de ano para ano. O que é um bom sinal - as pessoas vivem melhor, já se pode andar confortavelmente na rua, há mais dignidade e conforto material.
Ou talvez também queira dizer que em Londres, como noutras cidades, os pobres foram morar para outro lado, um lado mais longe, mais afastado, onde a gente não os vê amiúde.
O que também é bom. Ver pobres é sempre uma maçada tão grande.
Em resumo - "From Hell", de Alan Moore e Eddie Campbell. A ler, o mais veementemente (iic, que advérbio tão feio) possível.

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