quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Subtileza das sensações inúteis

Eh pá, que tédio, que tédio tão grande todos os dias, sempre a mesma coisa, por mais livros que se leiam, por mais sítios onde se vá, por mais textos que se escrevam, por mais diferentes que sejam as palavras, querem sempre dizer a mesma coisa, por mais variada que seja a música que ouvimos, toca sempre os mesmos acordes, por mais genial que sejam as coisas que os outros escrevem, são sempre banalidades estúpidas sob uma capa de bom português, por mais genial que sejam as coisas que eu escrevo, são sempre banalidades estúpidas mas sem a fachada de bom português, porque às vezes também é preciso conseguir escrever mal, mas mesmo assim nada resulta, sempre tudo igual, tudo igual, tudo igual, tudo feito até à exaustão de tal modo que irrita, a merda do trânsito, impossível, não há filmes de jeito no cinema, quero lá saber das americanadas, das últimas obras primas em exibição no King, tudo o que seja vagamente europeu, vagamente língua desconhecida, vagamente imagens desconexas à Godard e é ver os críticos a babarem-se, tão previsível que mete dó, ou isso ou uma lamechice qualquer que vai ganhar o Oscar, a merda que ouço as pessoas dizer, todos os dias, elas trabalham sempre muito, são muito sacrificadas, especialmente quando vão para o Brasil procurar casa de férias, que sacrificadas que são, tanto que elas trabalham, cada vez tenho menos paciência para os outros, como é possível que os outros se suportem a si próprios, dizem as mesma coisas, antes de abrirem a boca já sei (1) onde vão no fim de semana, (2) que livro estão a ler, (3) que posição, certamente tão brilhante que enjoa, têm sobre o que disse Saramago, Saramago pode dizer o que quiser, é ridículo que sequer se tenha falado sobre isso, é ridículo que eu própria esteja a falar disso, de modo que já estou como dizia não sei quem, o inferno são os outros, como é possível que eu, com tanta queixa, me suporte a mim própria. Tudo um supremíssimo cansaço, dizia Álvaro de Campos. Tudo um imenso enjoo, permito-me acrescentar eu.
Respirar fundo, para acalmar.
Mas como dizia Sérgio Godinho - cá se vai andando, com a cabeça entre as orelhas.
(se estivesse numa fase bem-educada, pediria desculpa pela virulência tão desagradável deste post, mas estou a atravessar uma fase muito mal-educada, por tanto não peço desculpa nenhuma)

3 comentários:

JB disse...

Surpreendente, este post.

Rita F. disse...

Desculpa lá, Zé. :) (um sorrisinho, para amenizar)

JB disse...

Eu adorei, caríssima. Sempre em cima, o Rua da Abadia.