terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Coisa que não compreendo: os "spoilers" das críticas de cinema do Público

Para dizer a verdade, este infortúnio (estar a ler uma crítica de um filme no Público e despontar um spoiler, do nada, sem que a pessoa se possa precaver) só me aconteceu duas vezes. No entanto, considerando que não devia ter acontecido nunca, considero que duas vezes é sobejamente horrível e indesculpável (nota para avisar que este post também contém spoilers. Ao menos, eu aviso).
O primeiro "spoiler" foi traumático, tal foi a sua magnitude. Foi há muitos anos, há tantos que a Missão Impossível (a primeira) tinha estreado e o Y nem sequer era o Y, era uma revista pequenina e fininha que saía com o Público ao fim-de-semana. Bom. Estava eu a ler esta revistinha, embalada na crítica à Missão Impossível, e eis que se diz qualquer coisa como isto - "o que é muito bom neste filme é Jon Voight como vilão". Hã? Eu mal queria acreditar. Acontece que o papel interpretado por Jon Voight era apenas e só o de Jim, isto é, o de mentor, o de chefe da equipa. Acontece que dizer que Jon Voight era o vilão era desmascarar a surpresa toda. Ou seria que o crítico estava à espera que ninguém soubesse quem era o Jon Voight?! Como anteriormente já referi - indesculpável e muito pouco profissional.
Na minha ingenuidade, eu pensei que coisas destas não se iriam repetir. Afinal, este infeliz incidente fora há anos, o público hoje lê mais coisas, ou pelo menos tem acesso a mais coisas, revistas e sites de cinema muito certinhos, em que os spoilers são devidamente assinalados, o que torna o próprio Público também mais exigente (em consequência do seu público - ah, ah). Veja-se o site novo do Cinecartaz, uma beleza toda profissional.
Pois bem. Há uns tempos, estava eu então no site do Cinecartaz a ler a crítica a um filme que se chama Casa de Sonhos, que ainda não vi, mas que parece que é meio de terror e parece que é giro. Eu gosto de filmes de terror mas gosto de saber de antemão se são mais artísticos ou mais para o gore, de modo que me pus a ler a crítica. E cito (negrito, itálico e sublinhado meus): 


Mais uma vez, a minha destreza verbal consegue resumir-se apenas a: hã?! Mas como é que passa pela cabeça da pessoa que escreveu isto (nem é uma crítica, é apenas a sinopse) que eu quero saber que o tal Peter e o tal Will são a mesma pessoa? Mesmo que seja daquelas coisas que a gente fica a saber logo no início do filme, o que eu duvido, eu não quero saber e tenho direito a não saber. Afinal, num filme de suspense, qualquer facto novo serve para nos surpreender. Reitero - indesculpável.
Agora já nem sei se quero ver este Dream House. Mas que chatice.
Com as devidas distâncias, sinto-me um bocadinho como João da Ega quando descobriu, da forma mais parva e assustadoramente banal possível, que o Carlos da Maia era irmão da Maria Eduarda. Quer dizer, ele não tinha perguntado nada a ninguém, estava muito bem na vida dele, não pediu para partilhar de nenhum segredo, e de repente cai-lhe aquela informação no colo, e ele não pode voltar atrás, não pode fazer nada, porque quando se sabe uma coisa já não dá para deixar de saber. E depois é obrigado a fazer qualquer coisa sem ter nada a ver com aquilo. Que injustiça, que sentimento de impotência tão chato - o de saber que agora sabemos uma coisa que não pedimos para saber, que não queremos saber, que não devemos sequer saber.
A ignorância é, por vezes, bem mais sábia e sensata. 

5 comentários:

Unknown disse...

Eu dantes costumava ler as críticas antes de ver os filmes. Por estas e por outras, mais tarde passei a lê-las só após ter visto os filmes. E agora não as leio, nem antes nem depois.

Rita F. disse...

Era o que eu devia fazer, também. Mas tenho esta atracção pelo abismo, que me leva a ler para depois poder dizer mal. Vil, eu sei. :(

Pp_FANTASMA disse...

Abaixo o spoilerismo, sem dúvida!!!

Anónimo disse...

Efectivamente, parece que é mesmo muito óbvio que o Will e o Peter são uma e a mesma pessoa - o próprio trailer do filme o sugere. De modo que, sem querer ser desagradável, até compreendo o impudor do sinopsista do Cinecartaz.

esquilinho disse...

Para mim, o pior spoiler de todos os tempos apareceu-me há uns anos, já não me lembro se no Público, se no defunto Independente, numa crítica a O Sexto Sentido.
[E AGORA UM SPOILER, para as 3 pessoas que ainda não viram o filme] Às tantas, dizia-se no texto algo do género: "é o melhor papel de Bruce Willis, especialmente se tivermos em conta que faz de morto." Oi?!
Ainda por cima, foi um spoiler totalmente propositado, porque quem o escreveu rematou com um "oops, isto não era para se dizer, pois não?!"

Enfim...