quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Expressão que não compreendo: "jovem"

Já me faz espécie (em si mesma, magnífica expressão) que as pessoas se refiram a essa entidade estranha designada por "os jovens". Esta série explica muitos dos problemas "dos jovens". "Os jovens" hoje em dia não querem trabalhar. A droga é um flagelo que atinge "os jovens". A expressão "a juventude" sempre é mais cómica. Continua a não ser muito simpática, mas enfim, é engraçada.
Ainda pior é quando algumas pessoas (vulgo "cotas", para usar uma expressão que "os jovens" também usam) decidem, parvamente, fazer de "jovem" uma forma de tratamento. "Jovem...?", quando vamos a uma café, por exemplo. "E para o jovem, o que vai ser?", "até à próxima, jovem".
Brrrrr. Só me consigo lembrar de tratamento pior quando, uma vez, um parvalhão qualquer se lembrou de se despedir de mim com "ilustre". Em vez de dizer, "então adeus, Rita", já que sabia o meu nome (sei que ele sabia porque me tinha chamado assim ainda nem há cinco minutos), decide dizer "ilustre... adeuzinho". Eh, pá. Mas que coisa tão feia.
Mas enfim. Eu penso que as pessoas consideram que estão a ser simpáticas quando usam "jovem". Afinal, toda a gente quer ser "jovem" e ninguém quer ser velho, muito menos tratado por "velho". Mas há formas mais simpáticas - por exemplo, apesar de eu já ser "velha" (pronto, digamos que para lá caminho estugadamente), ainda no outro dia fui a um café e o senhor tratou-me por "menina". Isto é adorável - este tratamento, sim, é gracioso, é querido. Agora "jovem".
É que, ainda por cima, eu nem sequer sou muito jovem. Aliás, vivesse eu há 100 anos e já era velha, mas com a esperança de vida a esticar e o pessoal trintão sem dinheiro a viver em casa dos pais a ter de ser apelidado de "jovem", se não ficamos mal vistos, pronto, sou jovem.
O que me leva a indagar, a questionar-me com alguma intensidade - o que se passa com o português e formas de tratamento? Parece que há tratamentos linguísticos à vontade do freguês (esta expressão, adoro). Ah, eu acho que tu tens cara de jovem? Então pronto, trato-te por jovem. Ah, tens cara de menina? Pronto, fica menina. Ah, és mais composto? Pronto, ficas "senhor". E assim por diante.
Não penso que estejamos ainda em condições de compreender o poder atribuído a quem escolhe uma forma de tratamento para se dirigir a outrem. É que entre um "você", um "jovem", "menina", "senhora", e porque não "doutor", "doutora" e quejandos, há uma grande distância, aquela que separa juízos de valor de toda a forma e feitio sobre a nossa própria pessoa. Cuidado com as aparências, é o que digo.

Adenda: este texto tem muitas aspas. É irritante. Peço desculpa pelo incómodo.

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