quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Dançar até ao fim do amor

Leonard Cohen tem uma canção cujo título me parece particularmente incisivo - Dance Me To The End of Love. E porquê incisivo? Inicisivo porque verdadeiro. Sim, porque é verdadeiro que movimentos mais desastrados ou desajeitados na pista de dança podem conduzir não apenas à vergonha alheia, mas igualmente ao fim do amor. Como gostar de alguém que é tão terrível ao nível da coordenação corporal que nos obriga a afastar o olhar, encarnadiços de vergonha, e esperar ardentemente que ninguém repare na má figura, sendo certo que está toda a gente a apontar o dedo e a rir? Parece-me provação a mais, mesmo para o amor mais enlevado.
Infelizmente, não sou daquelas pessoas que arrasa na pista de dança. Um dos meus sonhos não cumpridos e sem qualquer hipótese de concretização é ir para uma discoteca e as pessoas fazerem um círculo à minha volta, a aplaudir. Isto nunca me vai acontecer. Aliás, o meu mecanismo de legítima defesa também não o permite, porque, e isto é uma dica que poderá ser útil no futuro, quem sabe, quem tiver ideias de me torturar é obrigar-me a ser daquelas pessoas que vão para uma pista de dança dolorosamente vazia e começam para lá a mexer-se por todo o lado, sem se importar de não estar mais ninguém a dançar e perfeitamente à vontade até virem os outros todos em hordas começar também a dançar. Isto tudo para dizer que não sou nenhum John Travolta feminino, mas, acho eu, penso eu, quero acreditar, também não envergonho ninguém. Reitero - acho eu. Ainda ninguém se queixou.
Uma das coisas que me parece mais dificultosa quando nos relacionamos com os outros é, prineiro, ter de os ver na praia, em que estão tão vulneráveis que faz impressão, e depois aquela roupa de praia esquisita que não favorece quase ninguém é também penosa; segundo, ter de os ver a dançar quando dançam efectivamente mal. Não estou a falar daquelas pessoas que dançam de uma forma discreta, apagadinha, sem incomodar ninguém. Gosto destas pessoas, parece-me comportamento correcto. Estou a falar daquelas pessoas que, sendo boas pessoas, dançam mal, tão mal que sentimos aquela vergonha pelo outro inevitável e de terríveis consequências - a vergonha alheia é do pior que pode acontecer a alguém. E o outro, então, coitado, fica logo arrumado, mesmo que não o saiba.
Daí que o verdadeiro teste para sabermos se os nossos relacionamentos estão a correr bem ou não é, parece-me a mim, ir sair à noite e dançar um tanto ou quanto, basta um poucochinho,diminutivo agradável. Fica-se logo a saber. É que se for algo parecido com aquilo que este génio faz:

dizia, se for como faz este génio, é exactamente como diz o Leonard Cohen, anuncia-se a passos largos o fim do amor. Pode ser o princípio da comédia, mas é o fim do amor. As pessoas não têm culpa das suas descoordenações corporais, mas a questão da vergonha alheia é um bocadinho insuperável, pensou eu. Uma grande infelicidade. O amor verdadeiro deve ser quando a gente sente que nada do que o outro faça nos pode envergonhar, ainda que mastigue de boca aberta ou dance como este David Brent. Mas enfim, nada de sonhos impossíveis, não é, mesmo sendo Natal.
E pronto, para terminar e como não poderia deixar de ser, ainda para mais permitindo a temática do post, aqui fica a lindíssima canção desse trovador que nunca na vida envergonharia ninguém, L. Cohen:

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