Como dizia John Cusack no filme Alta Fidelidade (gosto muito deste filmito), "what really matters is what you like, not what you are like". De certa forma, esta afirmação é muito verdadeira - quem conseguir casar com alguém que ouve Britney Spears, ponha o dedo no ar. Ninguém põe, não é? Pois é...
Bom, partindo, então, do princípio (superficial, fútil, eu sei...) que esta afirmação de John Cusack é certa, os gostos das pessoas dizem muito daquilo que elas são. Acho que todos, de uma forma ou de outra, sentimos sempre a pressão para gostar das coisas certas e evitar que o mundo descubra os nossos terríveis "guilty pleasures", como, precisamente, gostar da Britney Spears (devo confessar que gosto muito da versão acústica que os Travis fizeram de "Hit me baby one more time"; gosto mesmo). Temos muita vergonha de admitir que o nosso filme preferido não é propriamente a Laranja Mecânica, é mais o Desafio Total.
Gosto das pessoas que não têm este tipo de vergonhas. Por exemplo, há uma querida, querida amiga minha que tanto gosta de Lady Gaga como de Alicia Keys, como de Tom Waits e de Ute Lemper. Lê o Arthur Miller e muda para o Código Da Vinci sem problema nenhum, sabendo muito bem distinguir uma coisa da outra, e sem quaisquer preconceitos intelectuais. Gosto desta atitude, porque me parece livre daquela arrogância constrangedora de quem, talvez por insegurança, tem medo de fazer figura de estúpido só por, de vez em quando, chafurdar na cultura pop.
Mas enfim, cada um é que sabe de si, como se costuma dizer; no entanto, há pessoas que, não sendo muito elevadas nem muito popularuchas, se tornam extremamente chatas e aborrecidas ao querer convictamente convencer os outros da sua grande inteligência, e que têm a mania de que são espertas e requintadas por, em vez de Britney Spears, ouvirem, talvez, uma Nora Jones. São as pessoas-Tom-Hanks, e era aqui que eu queria chegar (finalmente, depois de tanta conversa inútil, consegui). Gostar de Tom Hanks é a mesma coisa que tentar saborear um pão sem sal. O Tom Hanks é aquele tipo de actor que é pau para toda a obra. Faz tudo relativamente bem, ou até muito bem, sempre com uma competênciazinha certinha, limpinha, deslavadinha, sem nunca chegar ao arrebatador. É aquele actor de que as pessoas que estão no meio, que ouvem Nora Jones apenas porque ouvir Britney Spears dá mau aspecto, gostam, porque tudo o que seja insípido e inofensivo, elas acham automaticamente que é muito bom.
Há uma diferença entre a competênciazinha e o ser bom. E essa diferença não está no Tom Hanks. De modo que, quando conhecemos alguém que diz que tem por actor preferido o Tom Hanks, aquilo que a mesma pessoa nos transmite é, inevitavelmente, um imenso tédio. O melhor que se consegue arranjar, com toda a panóplia de actores e actrizes que andam por aí, é o limpinho Tom Hanks? Não é grande esforço. Há que ir mais ao cinema.
E aqui concluo os meus 15 minutos de intensa explanação dos meus respeitáveis preconceitos sobre o gosto dos outros.
1 comentário:
Será o deslavadinho uma nova categoria de cromos? Ou está coberta pelo pãozinho sem sal?
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