Realmente, quanto menos se escreve, menos se tem para escrever. Os escritores dizem que a escrita é um trabalho como qualquer outro - é preciso prática e disciplina, que isso da musa inspiradora é fogo fátuo que rapidamente se desvanece e quase nunca se materializa, de modo que o melhor é não se contar com isso, e é também muito importante "não perder a mão". Com grande pena minha, não sou escritora, mas percebo o que os escritores querem dizer com isto, com a importância de não perder a mão.
Igualmente com grande pena minha, cheguei a um ponto em que nem tempo tenho para me coçar, como se costuma dizer, o que raramente me acontece. Costumo ter imenso tempo para fazer tudo, inclusivamente coçar-me quando assim é necessário, embora o faça às escondidas por considerar ser um gesto deselegante. Mas constato que tenho andado numa vida impossível de evitar, e numa azáfama que me faz perder tempo e disponibilidade mental, de modo que passo a maior parte dos dias entupida de coisas inúteis que preciso, porém, de resolver e que me impedem de vir aqui divertir-me e escrever.
De modo que me sinto uma tristeza, sempre com a cabeça a doer e embrenhada na azáfama.
Tenho ido pouco ao cinema, e noutro dia fui ao Corte Ingles e fiz outra constatação, que foi a de que não me apetecia verdadeiramente ver nenhum filme. Quer dizer, por razões estéticas, talvez o Wolverine, mas não consegui (e isto apesar da enormíssima tentação, que os bíceps do Wolverine e o sobrolho franzido e ar de mau funcionam como o cheiro a pão quente, quanto a mim), não consegui, dizia, dar dinheiro para ir ver o Wolverine. Não consegui. Talvez tenha preconceitos a mais, mas a verdade é esta. Fiquei surpresa por o Let the Right One In não estar nas salas (espero que não se tenha dado o caso de já ter até saído de sala sem eu sequer reparar), fiquei igualmente desapontada, e como também não posso dar dinheiro para ver o Anjos e Demónios e quejandos, fui-me embora. Mas como é que é possível não haver nenhum filme para eu ver?! O Corte Inglês não é uma má sala, até costumam ter uma selecção muito razoável.
Ai. De modo que este post confirma que, quanto menos se escreve, menos se tem para escrever.
Peço desculpa, isto ficou, como diriam os Gato Fedorento, mesmo fraquinho.
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