quarta-feira, 6 de maio de 2009

Não acho bem


Há uma coisa que eu faço bem na vida, e que é: empatar tempo. Por exemplo, neste preciso momento, a Tese grita por mim, e eu respondo-lhe, "agora espera, que eu estou no blog". No outro dia, estava também a Tese a gritar desalmadamente por mim, e eu gritei-lhe de volta "agora espera, que eu estou a ver televisão". E de facto estava. Acontece que o programa a que eu assistia (foi só uma vez, e mesmo assim é uma grande vergonha) era sobre um gordo chamado Jim, e era daquelas sit-com americanas sem salvação possível e, pior, sem graça absolutamente nenhuma. Nesta série, este Jim é casado com uma loura toda gira e bimba (a mesma do Melrose Place - sim, eu tenho boa memória, e uma gravíssima tendência para má televisão americana), que passa a vida em casa, enquanto ele vai trabalhar. No episódio que eu vi, a loura acusava-o de não lhe prestar atenção nenhuma, de não a conhecer suficientemente bem, etc. E que exemplo é que ela arranja para ilustrar o facto de o marido não querer saber dela? Decide perguntar-lhe se ele sabe qual é a sua banda preferida. Ele diz que não, ou então dá uma resposta qualquer errada. Ela amua e diz, "são os Beatles, vês, tu não sabes!".

Acontece que este tipo de incidentes é um tanto ou quanto ofensivo para as pessoas que gostam e ouvem os Beatles. Por um lado, sabe-se que os Beatles são universais, e à partida toda a gente gosta deles. Isto é saudável e positivo. Por outro lado, ver o nome dos Beatles assim achincalhado como o tipo de banda que se presta a ser mencionada numa sit-com fraquinha e pobre de espírito, custa um bocadinho. Os Beatles tornaram-se tão universais que, sempre que alguém quer dar um exemplo de uma banda qualquer, escolhe-os a eles, não por serem bons, mas, provavelmente, por serem conhecidos e "clássicos" - quase banais, quando a discografia dos Beatles mostra claramente que banais é coisa que nunca foram.

Disseram-me noutro dia que os Portishead, no auge da sua popularidade, se chegaram a queixar devido ao facto de toda a gente ouvir a sua música, que se assemelhava, por se ter tornado de tal forma "moda", a música de elevador. Não sei se é verdade e se os Portishead se queixaram de facto, mas, assumindo que sim, por um lado acho que é uma atitude de terrível estupidez (querem vender discos ou não?), por outro até percebo. Se o artista que é bom artista se esforça por fazer um trabalho com dignidade, é natural que não o queira ver devassado. Talvez os Portishead estivessem a reagir a isso, ao facto de não verem o seu trabalho respeitado, não sei. De qualquer forma, a questão é semelhante ao caso dos Beatles. É bom serem tão universais e saber que o mundo reconhece o seu génio. Mas banalizá-los por dá cá aquela palha e porem uma pobre de espírito na televisão a dizer que os Beatles são a sua banda favorita (como quem diz Abba, por exemplo), é uma coisa que uma pessoa como eu, que claramente não tem mais nada em que pensar e que se ocupa destes preciosismo, acha mal.

Respeito pelos Fab Four, é só isso que eu peço.

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