Ouvi recentemente uma versão absurda, pavorosa, feia, feia, feia, de Aleluia (a canção de Leonard Cohen -prometo que vou deixar de falar dele depois de 30 de Julho, em que finalmente o vou ver e ouvir ao vivo e a cores; até lá, o Leonard será presença um bocadinho constante neste blog, porque também estará muito constante nos meus pensamentos). Adiante. Ouvi uma versão horripilante do Aleluia por uma cidadã que vim a descobrir ser uma tal Alexandra Burke; esta Alexandra é uma nacional-cançonetista que resulta de um cruzamento de Rhiannas, Cristinas Aguileras, Mariahs Careys e outras que tais. Decidiu a Alexandra, então, cantar alegremente o Aleluia de Leonard Cohen numas entoações de pop de plástico, meio R&B, meio foleirada, com muitos gritinhos e suspiros e arrebatamentos vocais para compor a canção. Deve ter achado que o Aleluia era uma composição um bocadinho simples, um bocadinho básica, e que as trezentas mil versões que já se fizeram da mesma música eram também um bocadinho simples, um bocadinho básicas, com poucos devaneios estridentes, ainda que afinados.
Resumindo: foi a coisa mais horrível que eu já ouvi, porque, além de ser uma versão feia, é uma versão que entristece e perturba. Uma Alexandra Burke a cantar Leonard Cohen? Além do L, não estou a ver o que mais têm em comum.
No entanto, o que realmente me fez reflectir não foi exactamente que alguém como a Alexandra cante alguém como o Leonard, mas antes o facto de alguém, quem quer que seja, se dar ao trabalho de entoar uma versão de uma canção que já conta com inúmeras versões prévias. Só de cabeça, sem sequer ir pesquisar ao Google, lembro-me de três artistas que cantaram Aleluia - Jeff Buckely, Rufus Wainwright e KD Lang. Assim só de cabeça. De certeza que haverá mais, e que não houvesse, estes já chegam e sobejam (gosto de dizer "sobejar" ao invés de "sobrar"). Qual é a piada, para um artista, ainda por cima recente e jovem, de ir bater outra vez no ceguinho e perder toda a réstia de originalidade ao escolher Aleluia, ou o Yesterday dos Beatles, ou o Downtown Train do Tom Waits, numa tentativa vã de afirmar que é uma pessoa com algum gosto?
Sei que no Facebook há um grupo que se chama qualquer coisa como "If I'm going to listen to anyone singing Aleluia, it'll be Leonard Cohen". Tem muita razão de ser. Aquilo que, quanto a mim, se procura numa banda nova, ou num artista novo, é precisamente isso, a novidade, uma forma nova e inaudita de dizer, ou cantar, qualquer coisa. Fazer uma versão de uma canção magnífica é ser perdedor logo à partida, porque o original nunca será superado. Mais vale fazer o que os Travis fizeram - uma versão boa de uma música má (Hit me baby one more time, da Britney Spears - eu gosto imenso desta versão, tanto mais que me faz sempre rir imenso). Ou então, puxar pela cabeça e investir num som novo, bonito, uma coisa que dê vontade de ouvir.
Mas a Alexandra é, com certeza, superior a todas estas pequenas considerações.
Resumindo: foi a coisa mais horrível que eu já ouvi, porque, além de ser uma versão feia, é uma versão que entristece e perturba. Uma Alexandra Burke a cantar Leonard Cohen? Além do L, não estou a ver o que mais têm em comum.
No entanto, o que realmente me fez reflectir não foi exactamente que alguém como a Alexandra cante alguém como o Leonard, mas antes o facto de alguém, quem quer que seja, se dar ao trabalho de entoar uma versão de uma canção que já conta com inúmeras versões prévias. Só de cabeça, sem sequer ir pesquisar ao Google, lembro-me de três artistas que cantaram Aleluia - Jeff Buckely, Rufus Wainwright e KD Lang. Assim só de cabeça. De certeza que haverá mais, e que não houvesse, estes já chegam e sobejam (gosto de dizer "sobejar" ao invés de "sobrar"). Qual é a piada, para um artista, ainda por cima recente e jovem, de ir bater outra vez no ceguinho e perder toda a réstia de originalidade ao escolher Aleluia, ou o Yesterday dos Beatles, ou o Downtown Train do Tom Waits, numa tentativa vã de afirmar que é uma pessoa com algum gosto?
Sei que no Facebook há um grupo que se chama qualquer coisa como "If I'm going to listen to anyone singing Aleluia, it'll be Leonard Cohen". Tem muita razão de ser. Aquilo que, quanto a mim, se procura numa banda nova, ou num artista novo, é precisamente isso, a novidade, uma forma nova e inaudita de dizer, ou cantar, qualquer coisa. Fazer uma versão de uma canção magnífica é ser perdedor logo à partida, porque o original nunca será superado. Mais vale fazer o que os Travis fizeram - uma versão boa de uma música má (Hit me baby one more time, da Britney Spears - eu gosto imenso desta versão, tanto mais que me faz sempre rir imenso). Ou então, puxar pela cabeça e investir num som novo, bonito, uma coisa que dê vontade de ouvir.
Mas a Alexandra é, com certeza, superior a todas estas pequenas considerações.
Baby One More Time - Travis
2 comentários:
No Big Show SIC, esse grande e saudoso programa "sobejavam" os wannabies a cantor pimba entoando o barco negro. Há cantigas que têm sinas assim.
Mas nem a propósito, ontém no programa da liga dos campeões, a televisão dinamarquesa (sempre na vanguarda) pôs a versão do grande Jeff Buckley (de que gosto muito, diga-se) no genérico final. Um bocadinho desproporcionado, não? O que é feito do we are the champions?
P.S. - Sobejar é um bonito e muito português verbo.
Zorze, concordo com tudinho no teu comentário. Acho que tens toda a razão com a "sina" de certas canções - são um íman que atrai má versão atrás de má versão, como por exemplo, além do Barco Negro (que me derrete completamente quando é cantado pela Srª D. Amália :) ), a Canção do Mar, também pela Amália, mas vilipendiada por muitas dulces pontes.
Bem, Jeff Buckley na liga dos campeões é indescritível. Deve ser para puxar à lágrima, mas é muitíssimo desproporcionado, diria eu.
E sim, "sobejar" é um lindíssimo verbo.
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