quarta-feira, 1 de abril de 2009

A rapariga que não sabe contar histórias


O que eu queria fazer hoje aqui no blog era contar qualquer coisa, uma história, uma anedota, que fizesse rir. Que fizesse rir mesmo, que fizesse as pessoas voltar ao post para ler outra vez e para se rirem. Mas não consigo, nem nunca conseguirei. Eu sou daquelas pessoas que não sabe contar histórias. Mesmo que a narrativa vá encarrilada, chega a parte do fim e estrago sempre tudo, ou pior, nunca encontro nenhum fim. E por isso não conto histórias, muito menos histórias que façam rir, dada a importância fundamental da punchline (sim, eu sei, os Monty Python desprezavam-na, mas eu não sou propriamente os Monthy Python, não é, não me posso dar ao luxo de contar anedotas sem punchline e esperar que as pessoas achem graça), dizia, dada a importância da punchline, e dado a minha enorme incompetência para fins, opto por não contar histórias.

É, então, por não saber contar histórias que adoro que me contem histórias a mim. Acho que ainda hoje a melhor forma de resolver as minhas insónias seria ter novamente a minha mãe à cabeceira a contar-me uma história. A minha mãe sabe as melhores histórias do mundo. Uma vez que a idade adulta dificulta que se adormeça com a voz da mãe a contar histórias, comecei a despertar para a beleza da narrativa não-ficcional, e para géneros como a crónica, ou romances "arraçados" como o In Cold Blood ou o magnífico Adivinhas de Pedro e Inês, da Agustina (que se calhar não pode ser designado por romance, mas eu designo, porque sou dada a designações. Gosto de não só designar, como de conjugar o verbo designar), enfim, a escrita que exige que pensemos noutras coisas que não consistam apenas em contar uma história. Com grande pena minha, eu não sei contar histórias. E digo isto com tristeza, porque um dos livros que eu gostava mais de ler quando era pequena chamava-se, precisamene, "O senhor que não sabia contar histórias", de Carlos Pinhão, e eu adorava gozar com esta personagem, dizendo, de mim para mim, de forma absolutamente sobranceira "o senhor não sabe contar histórias, como é que é possível não se saber contar histórias, eh eh!". Era tão giro, este livro.

E aqui estou eu, anos depois, sem saber contar uma história. E, mais do que isso, a sujeitar-me a olhares estranhos e caretas quando peço que me contem uma história. Às vezes, gostava de estar a falar com alguém e que esse alguém, pura e simplesmente, me dissesse, "agora vou contar-te uma história, uma história a sério, cheia de coisas que acontecem e peripécias", e ficaríamos ali, à mesa de café, eu a ouvir a história, o alguém a contar.

Uma história à mesa de café - que bonito.

Estou lamechas, hoje.

1 comentário:

Xantipa disse...

Lembro-me te te contar a história dos 3 Porquinhos (a ti e ao João) e de como vocês pediam «mais, mais» ou «outra vez!» na parte que em vos soprava para a cara, a imitar o lobo mau.
:)
Muitos beijinhos