sexta-feira, 3 de abril de 2009

João Gobern

Ouvi ontem uma entrevista a João Gobern na Radar, e gostei bastante, em primeiro lugar porque costumo gostar do que João Gobern diz (ouço afincadamente as suas crónicas na Antena 1, a não ser quando não estou acordada a essa hora, ou quando o João está doente, o que de vez em quando acontece, e eu percebo, porque se eu tivesse todos os dias de estar a produzir àquela infame hora matutina, também ficaria doente muitas vezes, quiçá todos os dias), e em segundo lugar porque, para não destoar, ontem concordei com tudo o que João Gobern disse na entrevista (a parte que ouvi; não ouvi até ao fim). Ao que mais prestei atenção foi quando se falou no desaparecimento do Sete e de como não tinha havido, até hoje, uma verdadeira tentativa de fazer sair um jornal equivalente, e mais, como até hoje nem sequer voltou a existir jornalismo daquele calibre em Portugal. João Gobern deu como exemplo uma edição temática do Sete sobre o terceiro Padrinho, em que esmiuçavam o filme de uma ponta à outra, faziam o historial das personagens mais ínfimas e dos actores todos, o seu papel no enredo e na família, etc. De facto, não sei de nenhuma publicação em Portugal que, hoje em dia, se desse ao trabalho de fazer isso, a não ser que publicasse um artigozinho traduzido e pronto a comer de uma outra revista estrangeira.

Em relação a cinema e música (não vou falar de livros; há a revista LER, o Jornal de Letras que, enfim, sempre são qualquer coisa), as publicações em Portugal são paupérrimas (a não ser que haja por aí uma que eu não conheço, o que admito ser possível), o que é uma tristeza. Adorava ter uma revista com boa investigação e, acima de tudo, bem escrita, acerca de filmes, bandas e música, uma revista que não tivesse medo de dizer mal quando é para dizer mal nem de dizer bem quando é para dizer bem, ao contrário do que em geral me parece acontecer com a crítica portuguesa, em que a gente já adivinha que filmes é que vão ter boas ou más críticas, e porquê, antes sequer de ir ler as ditas críticas. Depois, gostava de poder contar com uma publicação que se centrasse na sua própria investigação e conseguisse fazer reportagens autónomas de jeito, em vez de andar a traduzir coisas de revistas estrangeiras, o que se torna pior quando não se indica que é uma tradução, e se assume que o público português é estúpido, pouco exigente e não vai perceber. Isto entristece-me, porque gostava que, na imprensa portuguesa, houvesse debates engraçados, estimulantes e que nos fizessem saber mais sobre cinema, sobre música, sobre coisas que nos fazem bem e que alegram a nossa vida, e não há.

Talvez esteja a ser injusta, e ande por aí uma maravilhosa publicação que corresponda a todos os requisitos e muito mais. Talvez.

E, já agora, deixo um apelo à Radar (que, diga-se, em termos de estações de rádio, ainda bem que existe e que é uma verdadeira salvação) para pôr o Fala Com Ela com João Canijo em podcast, que quando passou não ouvi e queria tanto ouvir, tanto, tanto. Vejam lá isso, ó pessoal da Radar, se faz favor, obrigadinha.

3 comentários:

Anónimo disse...

Por acaso não acho a Ler grande espingarda, e o JL é claramente areia a mais para a minha camioneta, mas prontos. Quanto a publicações sobre cinema, concordo imensamente. Fazem falta. Vi que a Premiere voltou, depois de uma razoavelmente prolongada ausência, mas a Premiere é francamente má, e se antes acabava sempre por comprá-la, agora népias porque os tempos estão difíceis e blábláblá. Conclusão: ultimamente têm-me valido o senses of cinema e as minhas próprias experiências com os filmes, o que também tem a sua piada, pensar afincadamente sobre o que vimos ou lemos, esmiuçar bem a coisa. O senses of cinema tem coisas muito interessantes. Assim de repente, não me lembro de mais nenhum site interessante sobre cinema, mas tenho a certeza que vais partilhar comigo.
(a palavra de verificação é 'dondes'. Giro)

Rita F. disse...

Vou investigar esse senses of cinema, que desconheço, e já agora obrigada pela "dica". :) Dica é uma palavra pirosa e feia, ai meu Deus, batam-me na cabeça.
Digo exactamente o mesmo da Premiere - quando saiu pela primeira vez, comprei, e rapidamente deixei de o fazer, porque rapidamente se deteriorou. A nova Premiere também me parece má, de modo que, como dizes, o melhor é confiarmos na nossa própria cabeça e está a andar.
(Fui agora mesmo ver o site do senses of cinema, sim senhor, parece bem interessante; um bem haja a você por me informar)

ecila disse...

Se o jornalismo em Portugal fosse só mau quanto a publicacoes relativas a cinema, teatro, musica, talvez fosse somente estranho. O pior é que é assim mau em relacao a todos os assuntos, politica e afins. Um diz-que-disse desesperante.