segunda-feira, 6 de junho de 2011

A Sophie

A Sophie Calle é uma artista de quem eu gosto. Descobri-a através de uma exposição sua, mais tarde um livro, intitulado Douleur Exquise. É uma retrospectiva de fotografia e texto sobre uma relação amorosa falhada, em contagem decrescente  até o momento da ruptura - 50 dias para a dor, 49 dias para a dor, etc. 
Pode parecer masoquista, e talvez seja, de facto. No entanto, o que subjaz ao trabalho de Calle é aquela vontade terrível que temos de fazer o tempo andar para trás quando a infelicidade embate contra nós - há uma semana eu não sabia, há uma semana eu estava bem, se eu ao menos tivesse aproveitado melhor, se tivesse feito isto ou aquilo, se pelo menos conseguisse andar para trás uma semana e ficar lá para sempre. Quanto mais pensamos nisto, pior é, porque evidentemente massacramo-nos com a única solução que será para sempre impossível, e que é evitar uma coisa que já aconteceu. E a realidade da nossa impotência face à tragédia é destruidora, difícil, ou impossível, de aceitar  - não interessa se a nossa tragédia é banal, ou se acontece a toda a gente. Basta ser uma tragédia para nós para se tornar inquantificável. 
De modo que Calle consegue essa sensação triste, destruidora, sufocante e claustrofóbica até, com esta contagem decrescente até ao momento de tristeza inevitável, que já sabemos à partida ser imparável e destruidor. Mas é um trabalho bonito.
Este é o resumo da Sophie sobre Douleur Exquise:

Je suis partie au Japon le 25 octobre 1984 sans savoir que cette date marquait le début d'un compte à rebours de quatre-vingt-douze jours qui allait aboutir à une rupture, banale, mais que j'ai vécue alors comme le moment le plus douloureux de ma vie. J'en ai tenu ce voyage pour responsable. De retour en France, le 28 janvier 1985, j'ai choisi, par conjuration, de raconter ma souffrance plutôt que mon périple. En contrepartie, j'ai demandé à mes interlocuteurs, amis ou rencontres de fortune : "Quand avez-vous le plus souffert ?" Cet échange cesserait quand j'aurais épuisé ma propre histoire à force de la raconter, ou bien relativisé ma peine face à celle des autres.

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