segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Bicicleta

Hoje tinha tanta, tanta, tanta vontade de andar de bicicleta, pedalar e pedalar, e ver os prédios a passar muito depressa, e tocar à campainha com força para as pessoas saírem do caminho, e continuar a pedalar, e aquele lugar-comum de sentir o vento na cara e sermos saudáveis e sentirmos que o mundo é todo nosso é mesmo verdade, e mesmo quem anda mal de bicicleta, como eu, e tem de parar nas rampas e empurrar aquilo por ali acima até ficar ofegante que é uma vergonha, ou então descer rampas quase a travar até se arriscar a cair da bicicleta abaixo, dizia eu, até quem é assim gosta de andar de bicicleta, e depois chega-se a casa e as pernas doem tanto, e lá fora estava frio mas nós estamos encalorados e é tão bom.
Já há muitos anos que não tenho uma bicicleta minha, e a última vez que andei estava em Londres, o tempo estava curiosamente lindo, fui para o meio do campo no meio de Londres, o que, também curiosamente, pode acontecer, e pedalei até me fartar, e toda a gente se desviou do caminho, e o sol brilhava no rio, e tudo parecia tão perfeito que nem parecia um dia normal, mas era, e havia um silêncio tão grande, nem os cães que passeavam com os donos faziam barulho, era mesmo campo, e isto no meio de uma grande cidade, mas depois tive de voltar para casa por ruas mais agitadas, já era de noite e apareceu-me um daqueles autocarros de dois andares por trás e tive de subir para o passeio, e isso assustou-me um bocadinho, mas não aconteceu nada, cheguei a casa sã e salva e orgulhosa de mim própria, e tinha um cachecol de lã muito quente que a minha mãe me fez, muito bonito, e um kispo muito feio, à homem, por cima, que tive mesmo de usar por causa da temperatura, e tinha as calças arregaçadas para não se prenderem nas correntes e as pernas ficaram todas arranhadas e sujas de óleo e eu não me importei nada, e as minhas mãos, sem luvas porque não tinha luvas, estavam rígidas e quase congeladas de agarrarem no guiador com tanta força, e eu senti-me tão bem, melhor do que nunca.
Hoje tenho saudades de uma bicicletazinha. Pronto. O Almada Negreiros dizia que a salvação não está nos livros, mas se calhar está numa bicicleta a toda a velocidade. A salvação e a liberdade.
O post é mesmo só isto.

3 comentários:

Lúcio Ferro disse...

É curioso, ainda ontem estive na Decathlon e vi lá uma Shimano espectacular; quadro de titânio, design conservador, com meramente cinco velocidades e, coup de grace para mim, pneus Dunlop. Recomendo uma visita :)

Anónimo disse...

Compra uma e mainada. Se fores de Lisboa aconselho-te o percurso junto ao rio,entre Belém e o Cais-do-sodré, é altamente, dá para ver as costas dos edifícios, ruas e becos que não se vêem do lado habitual.:)

glup

Rita F. disse...

Lúcio, as minhas bicicletas preferidas são aquelas que, acho, se chamam "pastelonas" ou "pasteleiras" e têm um cesto à frente. Dessas é que eu gosto, de preferência cor-de-rosa. A Decathlon tem disso?

Anónimo, obrigada pela sugestão. Vou ter de adquirir uma pastelona ou pasteleira primeiro.