terça-feira, 19 de outubro de 2010

Sôbolos rios que vão

Descobri hoje que o novo romance de Lobo Antunes tem como título este verso do Camões. Não sei se vou ler, se não (o mais recente que li de Lobo foi "Não Entres Tão Depressa...". Não gostei, houve ali qualquer magia que não se deu). De qualquer forma, fiquei com um certo apetite, porque o título é espectacular. E é espectacular porque o poema também o é. A minha parte favorita (do poema) é:


Bem são rios estas águas,
com que banho este papel;
bem parece ser cruel
variedade de mágoas
e confusão de Babel.

Como homem que, por exemplo
dos transes em que se achou,
despois que a guerra deixou,
pelas paredes do templo
suas armas pendurou:

Assi, despois que assentei
que tudo o tempo gastava,
da tristeza que tomei
nos salgueiros pendurei
os órgãos com que cantava.
Aquele instrumento ledo
deixei da vida passada,
dizendo: - Música amada,
deixo-vos neste arvoredo
à memória consagrada.

Se calhar, foi por isto que Lobo deu ao livro o título de Camões - é o guerreiro que se retira, que pendura as armas, que já não tem força para a guerra. Não sei, pode ser. Talvez. 

3 comentários:

fado alexandrino. disse...

Explicação do autor na entrevista que deu ao Expresso de sábado:
"O livro já estava escrito só não tinha título. Os rios que estão lá dentro é que me fizeram depois pensar em Camões, À partida não tinha nada que ver com o poema".
Serve, outra qualquer também serviria.

Rita F. disse...

Obrigada, Fado, assim fico a saber.
É pena que o título, afinal, não tenha assim tanto a ver com o livro.

esquilinho disse...

Também tentei ler esse Não entres tão depressa... Não consegui acabar. O facto de o andar a ler nos transportes, onde é mais difícil concentrar-me, pode não ter ajudado. Não sei, foi a minha primeira e única tentativa de ler um um livro do Lobo Antunes.
Mas uma coisa é certa: o senhor tem jeito para escolher títulos!