Tinha uma amiga que dizia que não gostava de namorar com nenhum homem que se risse muito. Não gostava de ver elementos do sexo masculino sempre a sorrir e a mostrar a dentuça, fosse esta última bonita ou feia - era uma idiossincrasia que ela tinha.
Dizia esta minha amiga que rir muito era piroso, ainda por cima num homem. Um homem tinha de ser sério e armar-se em difícil, o chamado "strong silent type", quase à Clint Eastwood nos westerns do Sergio Leone. Escusado será dizer que a mesma amiga se queixava muito - e porque é que não resultava, e porque é que ele era tão difícil, e porque é que nunca tinha a certeza, e porque é que nunca se resolvia a nada, e etc. e etc.
Há esta ilusão de que temos de nos "fazer difíceis" para conquistar os outros, porque nada na vida é fácil, as melhores coisas dão sempre mais trabalho, e argumentos semelhantes. É uma ilusão, acho eu. Uma pessoa que se faz difícil está apenas a demonstrar que é uma pessoa difícil que talvez deva ir viver com os pais, os únicos que terão alguma obrigação de aturar as suas birras. A não ser que se seja adepto daquilo que o meu pai às vezes diz, e que é "se as coisas podem ser complicadas, porque é que a gente as há-de fazer simples", não percebo porque é que as pessoas têm esta atracção por tudo o que seja homens ou mulheres "difíceis". Ah, é porque o fruto proibido é o mais apetecido - sim? Pois, não me parece. O fruto proibido é sempre o que dá mais trabalho e mais chatice - não é, de todo, o que sabe melhor, de modo que não deverá ser o mais apetecido. Mas enfim, cada um é como cada qual, e se o nosso desejo é a maçã que não se pode comer, então que se vá à luta, mesmo que a maçã tenha bicho (e tem de certeza).
Não há seres humanos perfeitos, do mesmo modo que não há maçãs perfeitas. Se o ser humano ainda se arma em difícil, para além de todos os defeitos que com certeza tem, não estou a ver grandes augúrios de felicidade. A minha querida amiga, hoje em dia, aprendeu que é muito bom viver com um homem que sabe rir, que é bem-disposto e que tem mais que fazer do que ser estratega e não decidir o que quer. E está muito mais feliz do que há dez anos atrás, em que ainda pensava que a maçã perfeita não admitia sorrisos.
Eu, como sempre gostei de quem se ri muito, nunca tive o mesmo problema. Terei outros, mas para os descrever não há engenho e arte, de modo que acabo aqui, nesta nota optimista, que às vezes faz falta. Mais um bocadinho e ponho aqui um smile.
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