quarta-feira, 28 de julho de 2010

Calor

Há dias e dias.
E há dias em que, sinceramente, nada do que normalmente valorizamos importa o mínimo que seja. Dias em que compreendemos que, verdadeiramente, e como Lobo Antunes uma vez escreveu numa crónica, todos os livros do mundo não valem uma noite de amor. Que a vida não se vive em museus, nos poemas do Cesário Verde, nos quadros do Ucello, em discussões sobre didácticas, pedagogias, reformas, filosofias, metafísicas, músicas e musiquinhas, concertos e bares e restaurantes de sushi que não interessam a ninguém, muito menos ao menino Jesus ou ao Camões, que, coitados, já têm tanto com que se preocupar.
Dias em que, com o calor que está, o que salta à vista é que estar de rabo sentado com um copo de água fresca é tão importante como qualquer livro do mundo, ou até mais. Que nada do que alimenta a mente faz qualquer falta - a mente alimenta-se do corpo e isso basta-lhe. Que nada mais há para além do não pensar, e que isso chega.
Tudo o resto são pormenores, infelizmente.
Acrescento timidamente Os Maias ao copo de água fresca, mas fico-me por aí. Há mais em que não pensar, há mais em que viver.

3 comentários:

.I. disse...

Tudo estava muito bem até mencionares Os Maias (por que raio foste fazer isso?).

Destination disse...

O prazer das pequenas coisas aqui:

http://comonovo.blogspot.com/2010/02/o-prazer-das-pequenas-coisas.html

Blogueiro Rom disse...

Hoegaarden

após o advento da Abadia e Boémia, aprendi a fugir das bombas gasosas e cáusticas que são as cervejas louras portuguesas.

outro dia pedi uma destas cervejas por engano, pensando ser uma ambrée de abadia que são as que prefiro.
esta é branca (limão claro) e baixo teor alcoólico. refrescante mas bate menos ou... bate diferente.

quando tenho tempo livre costumo bater, em espírito, alguns caminhos menos óbvios, talvez porque sempre gostei de considerar ( e estar preparado para)
todas as possibilidades, mesmo as menos óbvias. talvez por se tratar de uma cerveja estranha tenha ido por aí, há muito tempo que sabemos
que anda tudo ligado.
dei assim comigo a pensar no hermafroditismo, de que apenas sei que há imensas variantes, algumas das quais não funcionais ( não equipadas).
probabilidade pequena, mas interessante do ponto de vista filosófico, já que simbolizaria o selo do verdadeiro autor da trama, do real arquitecto: a chave: a seta final que
aponta o que é mesmo importante.
ocorreu-me a palavra cinismo, Deus ser cínico.
conclui achando que só os burros não mudam de ideias, e na verdade sou eu que estou sempre a falar de almas. não me limitei a pôr a cruzinha no item visitado,
( isso não seria ficar preparado para) mas aprendi que é um pormenor pouco importante no meio de tanta actividade noutras zonas do corpo.
se registei a elocubração foi porque achei as questões levantadas interessantes, além da relação entre as cervejas e os pensamentos por elas provocados ( coisa que raramente analiso porque bebo sempre das mesmas e em quantidades fortes, quando toda a gente sabe que as drogas só levam a algo na fase expontânea, na fase da surpresa).