sábado, 3 de julho de 2010

Normal

Conheço uma pessoa que tem muito jeito para descrever gente normal, como se constata pelo seguinte excerto:

...e, finalmente, aquela categoria de pessoas que é possível caracterizar com uma só palavra: cinzentas. São pessoas que, por força da roupa, da cara, do cabelo e dos olhos, têm uma aparência turva, cinzenta, como um dia em que não há tempestade no céu mas também não há sol, nem isto nem aquilo: paira uma neblina que tira toda a nitidez aos objectos. (...) Tais pessoas são completamente impassíveis, caminham sem olharem para nada, calam-se sem pensarem em nada.

É a mesma pessoa que, no seu Almas Mortas, descreveu certa personagem como "daquelas pessoas que não é carne nem peixe", o que está bem visto.
A normalidade parece muito simples, sem nada que se lhe diga, mas na verdade não é. Carne é carne; peixe é peixe; ambos são possíveis de definir. O que é não ser carne nem peixe, nem um nem outro? Não se consegue explicar.
Toda a gente pensa que não é normal porque toda a gente quer ser especial. Mas, na verdade, toda a gente é normal. A normalidade também tem destas coisas - quanto mais lhe queremos fugir, mais normal nos tornamos, porque é normal querer ser especial e não conseguir.
Gosto de ler sobre a normalidade. Aprecio muitíssimo quem a identifica e cristaliza exemplarmente. Não é fácil. O extra-ordinário chama mais a atenção do que o ordinário. É mais fácil escrever sobre ele.

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