quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O cinzento e o branco

Eu acho que o coração se divide em três partes: as pessoas de quem gostamos, as pessoas de quem não gostamos e as pessoas que nos são indiferentes.
No entanto, tenho uma amiga que discorda profundamente da forma como o meu coração está dividido. Diz ela que o seu coração tem uma parte branca, para o amor, uma parte negra, para o ódio, e uma parte (uma grande parte) cinzenta, quase a tocar no amor, mas que não é bem amor. Esta parte cinzenta pode, porém, ser muito perigosa, pois se a parte branca é reservada ao namorado, a parte cinzenta rserva-se sabe-se lá para quem. O que pode fazer perigar a imaculada parte branca. Não sei se me estou a fazer entender.
Fiquei a pensar nisto. Aliás, tenho pensado nisto há imenso tempo, meses, mas ainda não tinha escrito nada sobre o assunto porque, primeiro, arrisca-se à lamechice, que é coisa que me enerva, segundo, até recentemente não tinha acentos no teclado e isto não é matéria que aguente um post sem acentos. Como agora já tenho acentos, já posso escrever sobre o que me apetecer, "encetando todos os esforços" (que belíssima expressão) para fugir à horripilante lamechice fofinha e queridinha, que é verdadeiramente aquilo de que falamos quando falamos de amor (oh, que referência tão bem enxertada, não me venham dizer que não - estou a brincar).
Bom. Dizia eu. Fiquei a pensar na tal parte cinzenta do coração, e na forma como é possível olharmos para alguém e pensar que não estamos apaixonados, mas podíamos perfeitamente estar. E a consciência dessa possibilidade é clara como a água. Então, qual é a diferença entre estar apaixonado e saber que é perfeitamente possível, em abstracto, apaixonarmo-nos por uma pessoa específica? E mais, quando isto acontece, o que fazer à parte branca do coração, aquela que, pelos vistos, se reserva para aqueles por quem estamos verdadeiramente apaixonados? Será que a parte cinzenta contamina necessariamente a parte branca? E indo ainda mais longe, se a parte cinzenta não contaminar a branca, será que justifica e desculpabiliza aquilo que com tanto desprezo apelidamos de "traição"?
Este post está desnecessariamente complicado. Nem eu própria sei se compreendo o que escrevi, com tanto colorido (estranhamente monocromático) à mistura. Mas para bom entendedor, meia palavra (ou até muitas) basta, não é verdade? É.

1 comentário:

rititita disse...

É. É verdade. Eu compreendi perfeitamente. Obrigada por esta descrição.