quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Ou tudo, ou nada.

Gosto bastante deste blog, e apesar de nunca ter visto o filme de onde os fotogramas são retirados, imagino que o diálogo que se apresenta (uma mulher que diz a um homem qualquer coisa como "achas que depois da noite passada ainda podemos ser amigos? You underestimate me - não consigo traduzir isto muito bem). Bom.
Isto fez-me pensar (porque imagino que a cena se refira a uma mulher que se tenha divertido com um homem que agora a tenta descartar, embora possa estar completamente errada. Mas vamos assumir que não estou).
Vi uma vez, há imenso tempo, uma peça de teatro cujo nome não me lembro, mas sei que era coisa séria e de adulto, porque tinha nudez explícita e era interdito a crianças. Nessa peça, o actor principal fazia de "drag queen" (não era bem, mas não encontro um termo melhor), tem um namorado encantador, que às tantas se revela como muito pouco encantador porque quer acabar com ele, o drag queen, e tenta amenizar a coisa com "ah, mas queria muito ser teu amigo e tal". Responde-lhe o drag queen que nem pensar, que a amizade depois do amor não é amizade, é uma pobre consolação quando já não resta mais nada.
Bolas, eu não tenho a certeza de muita coisa, mas tenho a certeza disto ("a nível pessoal", como se costuma dizer, isto é, tenho a certeza de que funciona assim para mim). Lembro-me de estar a ver a peça e a pensar que o drag queen tinha toda a razão do mundo e que fez muito bem em dizer ao namorado que ou é tudo, ou não é nada. Amizade depois do amor? Ou, expliquemo-nos melhor: amizade quando um já não sente amor e o outro ainda sente? Não há aqui amizade possível. A amizade não pode vir das rupturas. Se assim for, é apenas uma caridade, uma pobre consolação.
A frase de Sade de que gosto tanto, de que a caridadezinha não passa de orgulho, e quem a pratica fá-lo apenas para se sentir boa pessoa, e portanto por motivos egoístas, aplica-se aqui também (a beneficência é mais um vício do orgulho do que uma verdadeira ostentação da alma; é por ostentação que se dão alívio aos semelhantes, nunca é com a pura intenção de praticar um acto bom). Já não te quero como namorado/a, mas vou fazer o favor de ser teu amigo/a, porque não suporto sentir-me má pessoa e causar-te esta dor. Eu, a isto, respondo que não, que nem pensar. Não quero ser amiga de um Corto Maltese qualquer que queira acabar comigo, muito pelo contrário, quero distância, silêncio completo, ruptura total, não pensar nele, não o ver, não saber se está feliz ou infeliz, casado ou solteiro, com filhos ou sem filhos, para eu poder andar para a frente com uma ajudinha dos meus (verdadeiros) amigos, como cantavam os sábios Beatles.
Ao menos, o Serge Gainsbourg, secundado depois por Jarvis Cocker, cantava sobre isto de forma muito honesta. Eh pá, já não dá. Vou-me embora. Dantes gostava de ti - but, hey, como canta o Jarvis sem mais explicações. Sobre isto também já escrevi, e enfim.
Nada mais tenho a dizer, excepto que, evidentemente, isto é uma posição pessoal, tenho imensa admiração por quem consegue extrair amizade das cinzas, tipo fénix milagrosa, apenas digo que para mim não dá, que tenho pouco jeito para milagres.



 Pergunta: como é que se põe apenas o leitor de música, sem mostrar o vídeo? O vídeo não tem interesse e não faço questão nenhuma de o ter aqui, mas só sei fazer assim.

3 comentários:

Ana disse...

É que é isso mesmo. Vou roubar.
Para pôr só a barra do leitor basta mudar o "height" do código para 25.

S. G. disse...

ao copiar o vídeo do youtube tem de ser "partilhar" depois clicar no Blogger e depois aparecerá uma codificação html. é nessa codificação que se deve alterar o "height" do código para 25.



excelente post, by the way...

Rita F. disse...

Ana, SG, muitíssimo obrigada! Sempre quis saber como isto se fazia. :)