Pois é, ando assim numa onda mais introspectiva e ponho-me a pensar sobre o amor e casais e outras coisas assim lamechas.
O meu instrutor de condução, há muitos anos, tinha muita opinião sobre estas temáticas. Gostava de falar da importância da família, que era para ele o mais importante do mundo, e dizia "é que uma facadinha no casamento aqui e ali, pronto, é normal, mas o mais importante é a gente dar atenção à família, sair com a família aos Domingos, estar com a família".
Nunca quis saber o que é ele entendia por "facadinhas", mas sei o que algumas pessoas entendem, gerando-se assim generalizações relativamente parvas como "se for só beijinho na boca não conta" ou "se for a viajar ou noutro país não conta". Eu designo isto por parvo, mas na verdade não o é necessariamente. Se estiver tudo bem resolvido e às claras, cada um é que sabe em que relação é que se mete. Cada um é como cada qual (não resisto, adoro esta expressão).
Quanto a mim, a questão da monogamia é algo que faz sentido, embora também só relativamente, porque sei lá se passado cinquenta anos (ou para aí dez) ainda vou pensar da mesma forma. Nem sei se é possível manter um casamento feliz durante cinquenta anos (ou para aí dez). Por um lado acho que sim, claro que sim, por outro acho absolutamente impossível, não porque as tentações extra-conjugais andam por aí a saltitar, mas sim porque cinquenta anos (ou para aí dez) sempre com a mesma pessoa parece esquisito. Só isso, esquisito. Mas depois penso no Corto Maltese e em chocolate, que para mim vão quase dar ao mesmo, e da mesma forma que não me imagino a deixar de gostar, ou sequer a entediar-me com chocolate, também não me imagino a deixar de gostar, ou sequer entediar-me com o Corto Maltese.
Mas isto presumindo que tudo é honesto e não há cá facadinhas. As facadinhas sempre me pareceram falsamente inofensivas, ou por outra: sempre me pareceram destrutivas, mas falsamente inofensivas para quem diz que elas são inofensivas. Aquele quadro de Frida Kahlo chamado, precisamente, "Facadinhas" (acho que se chama assim), e apesar de retratar uma situação bastante diferente e muito mais terrível (um homem que matou a mulher à facada, por ciúmes, julgo, e justificou o crime como sendo "apenas umas facadinhas"), acaba no fundo por falar da mesma coisa. Uma facadinha é uma facadinha. Mesmo que não doa propriamente, pica, faz comichão, sei lá, em geral é desagradável. (A propósito, o quadro, terrível e bonito como tudo o que Frida pintou, é este:
).
E isto para dizer o quê? Para dizer que hoje me enervei imenso no trânsito, que não atava nem desatava, que cheguei atrasadíssima, que foi muito complicado, e lembrei-me do instrutor de condução que achava que a facadinha faz parte do casamento.
Talvez faça, quem sou eu para dizer. O que tenho, sim, para dizer é que facadinhas não são fenómenos que me agradem. É que a mim doem-me mesmo. Cada um é como cada qual.Bem haja pela atençãozinha.
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