domingo, 27 de fevereiro de 2011

15 minutos de arte na parede

Pronto, já vi o filme do Banksy, Exit Through the Gift Shop. É giro, mas não aquilo de que eu estava à espera: ao invés de um comentário mais ou menos profundo sobre arte de rua, é um comentário mais ou menos profundo sobre a arte como um negócio. O homenzinho que teve a ideia de fazer o filme é um indivíduo francês, emigrado nos EUA, que se começou a interessar pelo grafitti, sem no entanto ter conseguido a inteligência suficiente para editar o material que recolhia e transformá-lo num verdadeiro documentário - isso só aconteceu porque Banksy decidiu intervir. No entanto, o que o tal homenzinho francês (cujo nome artístico é Mr Brainwash) conseguiu fazer foi produzir uma série de peças "de arte", assim muito pop culture e influenciadas pela arte de rua e tal, organizar uma enorme exposição e, porque conhecia o Banksy e foi ganhando alguma notoriedade à custa disso, atrair a atenção dos media. Resultado: no dia em que abriu a exposição, o tal Mr Brainwash tinha umas 2000 pessoas a fazer fila à porta, não pela qualidade da arte que se exibia, mas sim porque os jornais e a TV o tinham entrevistado e criado uma espécie de "hype" à volta de um homenzinho que era amigo do Banksy.
O que é quase triste é constatar os comentários das pessoas que foram ver a tal exposição - ah, que interessante, ah, que giro, ah, eu só cá vim porque vi no LA Times e estou a adorar, acho que este artista tem algo a dizer sobre a cultura dos nossos dias, e etc. e tal. É dolorosamente óbvio que a última coisa que o homenzinho francês tem a dizer é "algo sobre a cultura dos nossos dias", aliás, é dolorosamente óbvio que ele tem muito pouco a dizer sobre o que quer que seja - é um tipo pouco esperto, que gosta de filmar umas coisas, é tudo.
De modo que a conclusão que eu retirei deste interessante documentário é que é muito fácil enganar o povo - umas notícias no jornal, umas reportagens acertadas no programa de TV alternativo e da moda, ou no blogue certo, e qualquer zé-ninguém se põe a vender "arte" como se não houvesse amanhã. De facto, o Andy Warhol tinha toda a razão - como qualquer outro negócio, o que a arte precisa é da promoção certa e da cultura da celebridade. E se é ou não arte, não interessa assim tanto. Como qualquer outra coisa, é "vendável", como se diz agora. 
E, na verdade, esta questão não é nova, como o velho exemplo de Camilo Castelo Branco demonstra - porque tinha de ganhar dinheiro, escrevia noveletas. Isto diminui a grandeza de Camilo? Será que o Amor de Perdição ou o Calisto Elói são menos arte porque o seu autor teve de passar algum tempo a comprometer o seu talento para ganhar dinheiro? Não me parece. Toda a gente tem renda para pagar e é mesmo assim. Convém é que, em algum momento, o artista que é o verdadeiro artista consiga fazer alguma coisa de jeito, fora dos limites do dinheiro e do tempo, como o Serafim Saudade, por exemplo. Isso é só para alguns, mas vai acontecendo. Felizmente para todos nós.

1 comentário:

fado alexandrino. disse...

Para sua informação, isto

http://www.amazon.co.uk/Banksy-Locations-Tours-Vol-Unofficial/dp/0955471249

está na FNAC - Colombo 13 euros e mais uns trocados.