E, já que estamos (ou estou eu) numa de crueldade, vou aqui citar isto:
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Quando se fala do peso da idade, deve ser disto que se fala. A perda do amor. Já não haver ninguém que goste de nós como quando éramos pequenos. O amor que tomamos como dado adquirido, por não poder ser de outra forma, dos pais, dos tios, dos avós. De toda a gente, no fundo. É como se todo o mundo estivesse orientado só para gostar de nós.
E, como explica Fernando Pessoa, desta forma tão cruelmente bonita, quando a casa se esvazia e ficamos nós ali como fósforo frio a olhar para a humidade nas paredes... eh pá, fazemos o quê? De repente, fazem-nos falta. Os tios, os avós, toda a gente. Os cuidados com a festa de aniversário. Fazerem bolos na cozinha. Imagine-se - fazer bolos e rissóis e tudo em casa porque nós fazemos anos. E depois ficarmos sem isso.
Não se faz.
2 comentários:
só para registar que o seu amigo da antena 1 deixou, em definitivo (nota-se algum desnorte por vezes) de dizer, «É!».
Achei que tinha a sua pertinência.
cumprimentos,
Obrigada por me informar. Folgo muito em saber, verdadeiramente. :)
Enviar um comentário