quarta-feira, 17 de julho de 2013

A crítica fácil

No Expresso desta semana, a revista Actual tem o Dan Brown na capa, o que se percebe, porque diz que tem novo livro à venda. Pensei que fosse uma entrevista com o homem, o que seria de esperar num suplemento de um jornal, mas não, o que há é um longo texto da Clara Ferreira Alves a descascar em Dan Brown, com os mesmos argumentos previsíveis de sempre e com uma pretensão que me parece não ficar muito longe daquela que imputa ao mesmo Dan Brown.
Esta crítica ao homem, sinceramente, já cansa. Aquilo que a Clara Ferreira Alves diz do novo livro de Brown aplica-se sem tirar nem pôr ao Código Da Vinci e, aposto, a todos os outros livros que Dan Brown publicou ou publicará. Mais, tudo o que ela diz (e que são críticas absolutamente pertinentes, disto não há que duvidar) já se disse antes a propósito do Código. Para quê repetir os mesmos argumentos estafados? O Expresso não encontra mais nada com que encher três páginas? Ponham a senhora a falar de outra coisa, ela ao menos tem opinião sobre tudo e ainda bem.
Apesar de me ter divertido com o Código Da Vinci, que li e que não me arrependo de ter lido, reconheço que é um livro trapalhão e que não está assim muito bem escrito. Concordo com CFA quando diz que o que Dan Brown escreve não é literatura. E então? Paulo Coelho também não é, e as pessoas gostam. Aquela do 50 Sombras também não deve ser, e as pessoas gostam. Vem assim tão grande mal ao mundo? Os grandes clássicos, os bons escritores, continuam e continuarão sempre a ser lidos. Inevitavelmente, estes últimos ficarão para a história e ganharão massas de leitores através dos tempos, ao passo que os "escritores" estilo Dan Brown ganham massas de leitores num momento histórico específico, e passado umas décadas ninguém se lembra deles. Sempre foi assim, sempre assim será. Não vejo onde está o problema, as pessoas que leiam o que quiserem, o que quer que seja que as torne feliz.
Este texto poderia muito bem ser uma defesa de Dan Brown, mas não é. Nunca na vida o defenderei, e não é por ser mau escritor ou por não escrever literatura, porque com isso posso eu bem. Como disse, até achei o Código Da Vinci bastante divertido. Não defendo Dan Brown, e espero que arda no Inferno sobre o qual gosta aparentemente de escrever, porque é um mentiroso. Isto, sim, é verdadeiramente imperdoável, especialmente considerando que se trata de alguém lido por milhares de pessoas. Sem aquele fim desastroso, escrito por quem efectivamente não sabe escrever, o Código Da Vinci até se aguentava; na verdade, conseguiria suportá-lo mesmo com o tal término incompetente da história. O que não suporto, porém, é ler um livro que goza com a minha cara e insulta a minha inteligência, que é o que Dan Brown faz a todos os leitores ao declarar, numa espécie de epígrafe, que a existência do Priorado do Sião é um "facto" e que Leonardo Da Vinci fez parte dessa tal organização. Não foi Dan Brown que inventou este Priorado fictício, mas toda a gente sabe que não passa disso mesmo, de ficção, de invenção - minto, não é ficção, é uma mentira, e Dan Brown, quando escreveu o seu livro na esperança absolutamente fundada de ganhar milhões, sabia disso muito bem e escolheu mentir e enganar, a troco de lucro que não merece (mereceria os seus milhões se o seu livro fosse um best-seller honesto, mas não é). 
É a mentira de Dan Brown, a sua profunda desonestidade intelectual da qual ele não parece envergonhar-se minimamente, que o torna tão mau. Clara Ferreira Alves aflora isto, ao acusá-lo (quanto a mim de forma mais rebuscada do que seria desejável) de não investigar as coisas como deve ser, de ir pelo caminho mais fácil (Wikipedia e toca a andar). Mas todo o seu esforço de retórica mereceria ir ao cerne da questão e chamar as coisas pelos nomes - Dan Brown é mentiroso. 
Não é preciso dizer mais.

1 comentário:

Drª taberneira disse...

"Concordo com CFA quando diz que o que Dan Brown escreve não é literatura. E então? Paulo Coelho também não é, e as pessoas gostam. Aquela do 50 Sombras também não deve ser, e as pessoas gostam. Vem assim tão grande mal ao mundo? Os grandes clássicos, os bons escritores, continuam e continuarão sempre a ser lidos. Inevitavelmente, estes últimos ficarão para a história e ganharão massas de leitores através dos tempos, ao passo que os "escritores" estilo Dan Brown ganham massas de leitores num momento histórico específico, e passado umas décadas ninguém se lembra deles."
Não podia concordar mais!