quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Ou tudo, ou nada.

Gosto bastante deste blog, e apesar de nunca ter visto o filme de onde os fotogramas são retirados, imagino que o diálogo que se apresenta (uma mulher que diz a um homem qualquer coisa como "achas que depois da noite passada ainda podemos ser amigos? You underestimate me - não consigo traduzir isto muito bem). Bom.
Isto fez-me pensar (porque imagino que a cena se refira a uma mulher que se tenha divertido com um homem que agora a tenta descartar, embora possa estar completamente errada. Mas vamos assumir que não estou).
Vi uma vez, há imenso tempo, uma peça de teatro cujo nome não me lembro, mas sei que era coisa séria e de adulto, porque tinha nudez explícita e era interdito a crianças. Nessa peça, o actor principal fazia de "drag queen" (não era bem, mas não encontro um termo melhor), tem um namorado encantador, que às tantas se revela como muito pouco encantador porque quer acabar com ele, o drag queen, e tenta amenizar a coisa com "ah, mas queria muito ser teu amigo e tal". Responde-lhe o drag queen que nem pensar, que a amizade depois do amor não é amizade, é uma pobre consolação quando já não resta mais nada.
Bolas, eu não tenho a certeza de muita coisa, mas tenho a certeza disto ("a nível pessoal", como se costuma dizer, isto é, tenho a certeza de que funciona assim para mim). Lembro-me de estar a ver a peça e a pensar que o drag queen tinha toda a razão do mundo e que fez muito bem em dizer ao namorado que ou é tudo, ou não é nada. Amizade depois do amor? Ou, expliquemo-nos melhor: amizade quando um já não sente amor e o outro ainda sente? Não há aqui amizade possível. A amizade não pode vir das rupturas. Se assim for, é apenas uma caridade, uma pobre consolação.
A frase de Sade de que gosto tanto, de que a caridadezinha não passa de orgulho, e quem a pratica fá-lo apenas para se sentir boa pessoa, e portanto por motivos egoístas, aplica-se aqui também (a beneficência é mais um vício do orgulho do que uma verdadeira ostentação da alma; é por ostentação que se dão alívio aos semelhantes, nunca é com a pura intenção de praticar um acto bom). Já não te quero como namorado/a, mas vou fazer o favor de ser teu amigo/a, porque não suporto sentir-me má pessoa e causar-te esta dor. Eu, a isto, respondo que não, que nem pensar. Não quero ser amiga de um Corto Maltese qualquer que queira acabar comigo, muito pelo contrário, quero distância, silêncio completo, ruptura total, não pensar nele, não o ver, não saber se está feliz ou infeliz, casado ou solteiro, com filhos ou sem filhos, para eu poder andar para a frente com uma ajudinha dos meus (verdadeiros) amigos, como cantavam os sábios Beatles.
Ao menos, o Serge Gainsbourg, secundado depois por Jarvis Cocker, cantava sobre isto de forma muito honesta. Eh pá, já não dá. Vou-me embora. Dantes gostava de ti - but, hey, como canta o Jarvis sem mais explicações. Sobre isto também já escrevi, e enfim.
Nada mais tenho a dizer, excepto que, evidentemente, isto é uma posição pessoal, tenho imensa admiração por quem consegue extrair amizade das cinzas, tipo fénix milagrosa, apenas digo que para mim não dá, que tenho pouco jeito para milagres.



 Pergunta: como é que se põe apenas o leitor de música, sem mostrar o vídeo? O vídeo não tem interesse e não faço questão nenhuma de o ter aqui, mas só sei fazer assim.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Ficções

As pessoas gostam de criar ficções, ou porque são escritoras e ganham a vida assim, e quem me dera a mim, portanto tudo bem, ou porque não conseguem viver sem uma narrativa que lhes justifique os problemas, as paranóias, as óbvias ilusões. Construímos sempre narrativas, encaramos a vida como uma longa história que começa no dia em que nascemos, Paul Ricoeur escreveu sobre isto, julgo, e a ficção faz parte de contar uma história, portanto ninguém nos pode levar a mal se, lá pelo meio, quisermos explicar o nosso mau humor com um "ah, o meu pai batia-me quando eu era pequena", mesmo que isto não seja inteiramente verdade, mesmo que isto tenha sido, na realidade, umas quantas admoestações ríspidas, uma palmada no rabo, mas é o que basta para eu extrapolar, dizer que me bateram quando era criança, porque se não for assim não há nada que justifique, que explique, que torne este meu mau humor inteligível, aceitável, e se nada houver que o justifique, e a única explicação for "eu sou assim porque sou má pessoa", sem atenuações, sem nada, aí eu teria de aceitar quem realmente sou, nada a fazer, ser humano de má qualidade.
E isso a gente não consegue. Os espelhos são sempre os nossos piores inimigos.
É por isso que eu gosto muito de maquilhagem, e uso desde os meus 15 anos, mais ou menos. 

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Respirar fundo, acalmar, respirar fundo, acalmar.

Nota rápida para dizer que já não suporto, mas é que já não suporto, ouvir portugueses a dizer que os outros portugueses andaram anos a viver como lordes, acima das suas possibilidades, e agora que paguem as favas. É que não suporto. Ainda hoje, quando fui ao cabeleireiro cortar o cabelo à Jean Seberg, e me entretinha com uma revista, levei com a Margarida Rebelo Pinto lá escarrapachada, empinada em saltos altos muito bem compostos, a dizer que já vendeu mais do que um milhão de livros e que o Natal lhe correu muito bem em vendas, deixando como "nota final" a justa, justíssima observação de que ah e tal, o português tem de deixar de viver como um lorde.
Eh pá. Eu não vou escrever muito porque fico de tal modo alterada que perco o parco poder de argumentação que tenho, mas gostava exactamente de saber de quem é que se está a falar quando se faz referência a este português que andou a viver que nem lorde. É ao português desempregado? É ao português que tem de pagar todos os anos os livros da escola dos filhos e só arranja dinheiro para isso se pedir ao banco? É ao português que ganha o salário mínimo? É ao português iletrado? É ao português que tem de escolher se compra comida ou medicamentos? É ao português que perdeu o emprego, é casado com outro português que também perdeu o emprego, e que agora não sabe como é que vai sustentar os filhos? É ao português que não consegue pagar renda? São estes portugueses todos, que são a maior parte dos portugueses, que andaram estes anos, obviamente, a viver de barriga cheia, a rir descaradamente da miséria dos outros enquanto se empanturravam, dizia, são estes portugueses que provocaram a crise e que têm agora de amargar? Pois, devem ser.
Mas quem sou eu para falar, se eu até vou ao cabeleireiro. Ando a viver que nem uma lady, rotunda, bojuda, de pança burguesa, a rir-me da miséria do país.
Respirar fundo... respirar fundo, que não me posso enervar. Amanhã é dia de trabalho. Sim, vou trabalhar porque não posso ficar em casa que nem uma lady, como fazia dantes. Dantes, quando eu era uma lady.
Respirar fundo. Respirar fundo. Acalmar. 
Sabe que mais, Srª D. Margarida Rebelo Pinto? Deixe a senhora de viver como um lorde. E aproveite e cale-se, mas é.
Boa noitinha.

Adenda: demorou algum tempo mas já percebi, ela estava a falar do Cavaco, coitado. Desculpe lá, sôdona Margarida. 
Estes tipos, pá. Aborrece-me um tanto ou quanto que sejam só aparência e estilo, à adolescente, mas depois gosto das canções deles, não consigo evitar. Há bandas assim, 60% é estética visual, 40% é música que até se ouve, ou, frequentemente, não se ouve de todo. Normalmente, desprezo estas bandas, porque gosto de coisas mais espontâneas, mais à trovador. Mas estes Kills estragam-me os planos. Não gosto nada deles.

Não sou muito boa no DIY

Uma das notícias mais lidas no Público online de hoje é que a crise vai obrigar as pessoas a ter uma horta e conhecer melhor os vizinhos, "para uma festinha". Pois bem, eu horta não tenho grande hipótese de ter, que além de não ter jardim, na minha varanda não cresce nada que a minha inépcia não arranje forma de estragar. Portanto, para mim vai mesmo continuar a ser o supermercado ou praça ou isso. Depois, conhecer os vizinhos também não me apetece, muito menos para uma "festinha". Assim como assim, as pessoas já sabem demais da vida umas das outras, mesmo quando tudo se resume ao bom-dia-boa-tarde (noutro dia, uma amiga minha vinha visitar-me e calhou ir no elevador com a minha vizinha do lado, que lhe disse "vai visitar a Rita? Olhe que ela não está cá", "está, está, chegou hoje", respondeu a minha amiga, e tivesse ela dado mais conversa ficariam ali a falar sobre as minhas idas e vindas que, sinceramente, não estou a ver como serão do interesse ou conhecimento de alguém. Mas pronto). Continuando. 
Outra coisa que eu não vou conseguir fazer de forma caseira é o cabelinho. Se eu conseguisse cortar o cabelo a mim própria, tudo bem. Se eu conhecesse alguém prendado, com jeitinho de mãos, tudo bem também. Mas a verdade é que não conheço. E esta conversa toda, toda, toda apenas para dizer algo que me satisfaz bastante e que é o verdadeiro âmago aqui do post. É que o meu cabelo, hoje, voltou finalmente ao seguinte estado:

Tudo bem que ninguém me confunde com a Jean Seberg, com alguma pena minha, mas a nível de cabelo estou lá. Espero eu.
Ou não, sei lá. Na verdade, hoje em dia tenho mais em que pensar do que em cortes de cabelo, como se verifica.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Eu hoje gostava de fumar. Eu, que nunca fumei.
Gostava de pegar num cigarro e pôr-me à janela a fumar.

E talvez assim ficasse com o estilo e o talento destes indivíduos acima,embora saiba que não, que o cigarro é só um elemento que os filmes tornaram na corporização de um certo je ne sais quoi, mas que não quer verdadeiramente dizer nada. E no entanto.
Como não fumo, pego no meu copo com leite quentinho e bebo.
Pronto.

sábado, 21 de janeiro de 2012

O amor, quando nasce, é para todos

O candidato republicano Newt Gringrich traiu a mulher, divorciou-se e acabou por casar com a amante, mas antes disso, revelou a ex-mulher, propos-lhe um casamento aberto ao invés do divórcio.
Eu adoro estes Republicanos, que fazem cair o Carmo e a Trindade (ou o equivalente lá na terra deles) quando  os Clintons deste mundo se entretêm em salas ovais, e afinal são tão progressistas e modernos que até um casamento aberto querem ter, qual adultério qual quê. Mas enfim, este é um dichote a que não resisti.
O NY Times apresenta um debate sobre isto, e compreende-se, já que é o tipo de fait divers que as pessoas gostam de discutir, para aliviar. Eu também gosto de pensar sobre estas coisinhas engraçadas.
Assim à partida, não tenho nada contra. Acredito que haja pessoas que gostem muito dos outros, de tal forma que queiram partilhar a sua vida e a sua cama com mais do que um ou uma. Mas a minha mente conservadorazinha não resiste a pensar "pffff, só vêm com estas conversas porque nunca conheceram o Corto Maltese delas. Coitadas". É horrível, não se deve pensar isto.
E porém, há aqui outra questão - se o casamento já é o pior de todos os mundos, à excepção de todos os outros, o que será a pessoa estar casada (entenda-se: numa relação empenhada) com mais do que uma pessoa? Deve ser uma trabalheira inimaginável. Não compreendo porque é que alguém há de querer isto. Mas, pelos vistos, funciona para certas pessoas, que dizem que assim obtêm o dobro do amor de uma relação normal. Pois é, mas o dobro da trabalheira também, além de que, se os dois membros do casal tiverem mais do que um companheiro, e estes companheiros, por sua vez, tiverem outros companheiros, é uma salganhada que ninguém se entende. Mas, para certas pessoas, parece que resulta, e ainda bem.
Há que respeitar a opção de cada. Cada um é como cada qual, lá diz a língua portuguesa, e isto o Acordo não pode mudar. 

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

As razões que tenho contra o Acordo Ortográfico (ou: não gosto que me venham desarrumar a casa)

Em termos linguísticos, nada há que justifique o Acordo. Não interessa que venham hordas de linguistas e académicos e tentem justificar, com tantos argumentos quanto desejem, as razões linguísticas que tornam "leem" superior à grafia "lêem". A ortografia é uma convenção; se eu aprender que "leem" se escreve assim, com o acento circunflexo ausente, então pronto, é assim. Há certos casos que admitem de facto uma contra-argumentação absolutamente linguística, como "para" preposição e "pára" forma verbal, já que aqui sabemos que o acento é necessário e não se percebe que o eliminem, mas enfim, em geral a ortografia é de facto uma convenção e é assim que a aprendemos.
Alguns, contra o Acordo, brandem o critério etimológico e interrogam-se, como Pedro Mexia, sobre como explicar a uma criança que um "egípcio" é proveniente do "Egito". Eu compreendo, e até concordo, com o que diz Pedro Mexia, mas mais uma vez não é um critério etimológico que necessariamente rege a ortografia de qualquer língua - o que interessa é aprender a convenção, e se eu desde a primária me habituar à mesma, tanto faz escrever Egipto como Egito. Há critérios etimológicos, outros puramente fonéticos, que influem na ortografia, mas o verdadeiro critério, em países como Portugal, é a convenção que o Estado impõe, e esta é muito mais política do que linguística, diria até - exclusivamente política. Daí o argumento de que este Acordo torna a ortografia mais próxima da forma como as pessoas falam seja um tanto ou quanto espúrio (seria espúrio aplicado a qualquer ortografia). 
Daquilo que conheço do Acordo, e o meu conhecimento não é de todo exaustivo, tanto que tão cedo não faço tenção de respeitar a "ortografia" que ele impõe, há três coisas que saltam à vista e que me ferem o olhar. 
A primeira é que o Acordo não é necessário - a ortografia portuguesa antes do Acordo está longe de se assemelhar à ortografia inglesa, raramente modificada, e essa sim, bem menos fonética do que a portuguesa - night, right, knight, por exemplo. O que é que lá estão a fazer o dígrafo "gh" e o "k"? Nada, provavelmente, e no entanto é assim que se escreve e é assim que as pessoas escrevem, sem problema nenhum. Se a ortografia portuguesa nem sequer apresenta problemas (na falta de melhor palavra) semelhantes a este, porquê mudá-la? O Acordo também não é necessário no sentido de uma eventual aproximação ao Brasil - as diferenças sintácticas são bem mais flagrantes, e essas permanecerão. Não é com o Acordo que a língua portuguesa se torna universal - a língua portuguesa já é universal, em todas as suas pluralidades, diferenças, variedades. Há, por exemplo, algum português que leia bem um texto em português europeu e não consiga ler um texto em português brasileiro, e vice-versa? A haver dificuldades, aposto que provirão todas da sintaxe e vocabulário, e não da ortografia.
A segunda razão que me fere é a flexibilidade que os defensores do Acordo dizem que este último permite. Certas palavras (não sei quais são, penso as que têm "c" mudo, mas que às vezes pode não ser, como "aspecto" - as pessoas que pronunciam o "c" nesta palavra podem continuar a escrevê-lo, pelo que percebo), dizia, certas palavras podem escrever-se de forma diferente, dependendo da forma como as pessoas a pronunciam. Isto é  para preservar, lá está, o português e as suas variedades e para não ofender as pessoas, para elas pensarem que a sua língua ainda é delas. Acho que este argumento nem sequer precisa, ou merece, comentários, mas seria talvez bom que se atentasse no significado de "ortografia", já que o Acordo precisa tanto dela.
A terceira é que os falantes de qualquer língua, quer queiramos quer não, sentem sempre que a língua é propriedade sua, e têm com ela uma relação pessoal (mesmo que não seja necessariamente afectiva - é sempre pessoal). A não haver necessidade de se modificar a ortografia da língua, e eu creio que não há, e sabendo de antemão a sensibilidade que os falantes sentem em relação à língua materna, que é a nossa casa, porquê e para quê tentar arrumar a casa de outra forma? É exactamente a mesma coisa do que eu, quando tento re-organizar a estante - penso sempre que estou a fazer melhor e que vou ficar com uma estante toda profissional e moderna, e no entanto quando tento encontrar um livro fico de tal forma à nora que penso que o perdi. E nunca me consigo habituar, de tal forma que volto à ordem antiga. 
A língua não evolui, modifica-se. E, mesmo que evoluísse, não seria um acordo ortográfico que trataria da evolução. 
Obrigada a quem leu, e gabo-vos a paciência, já que se este texto não fosse meu, não sei se lia até ao fim. Daí reiterar os meus agradecimentozinhos, bem-haja, boa continuação, e disponham.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Chega-se a um ponto em que só apetece mandar um grito.
O meu grito seria certamente diferente dos gritos que aparecem no vídeo abaixo. Há, neste documentário, uma cena horrível em que uma das vítimas da doença de Minamata agarra pelo colarinho o patrão da fábrica que poluiu durante anos as águas em que se pescava, e grita com ele, grita, grita, diz que perdeu os pais, que o irmão é deficiente e que as pessoas se riem dele, e grita e grita, e o homem a olhar para o ar, a olhar para todo o lado menos para ela.
Minamata, The Victims and Their World, de Noriaki Tsuchimoto. Descobri-o há um ou dois meses e voltei a lembrar-me dele hoje. Nem sei porquê, mas deve ser porque, felizmente por razões diferentes, me apetece gritar e é o grito dela que me tem vindo à cabeça.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Globos de Ouro, alguns comentários modestos

Golden Globe celebrities enjoy meal of real gold as poverty tightens grip on US 

 Uma perspectivazinha  diferente sobre os Globos de Ouro neste artigo. Banho de ouro, que fabuloso.
Comentando a cerimónia em si, e apesar de o artigo referido me ter posto imediatamente de má vontade, enfim, acho que alguns dos filmes nomeados/vencedores são interessantes. Ainda não vi o Artist, nem sei se já estreou em Portugal, mas hei-de ver. Já vi o The Help, e apesar de ter gostado, não estou inteiramente convencida. O filme oscila entre uma crueza triste e um paternalismo irritante. Mas gostei do filme, sim, principalmente de Viola Davis. 

Uma das coisas de que gosto nos Globos é que estes apresentam a categoria de televisão. Houve vencedores seguros e bonzinhos, a Kate Winslet, a Modern Family (sem surpresas, já que esta série ganhou todos os Emmys que havia a ganhar), e reparo que houve uma actriz qualquer que também ganhou um prémio pelo desempenho na American Horror Story. Acontece que vi ontem, pela primeira vez, um excerto de um episódio desta série e fiquei aterrada, mas no mau sentido. A cena que vi constava de uma pobre senhora visivelmente grávida (de gémeos, como vim a descobrir), a tentar descansar na cama, e enquanto isto a pobre senhora é violentamente despertada por uma adolescente fantasma aos gritos e às asneiras, que entratanto chama um tipo num fato preto latex, que não percebi ser fantasma ou ser real, que começa a desenvolver esforços para violar - sim, perceberam bem - a pobre mulher grávida. ?! Hã? Então mas eu estou muito bem a tentar ver uma série que penso que mete assim uns fantasmas e tal, e depois tenho de levar com uma cena destas, que transcende em muito qualquer violência que se poderia esperar? Há alguém que veja esta série e que me possa explicar se isto faz algum sentido, ou se é mesmo violênciazeca barata e evitável? É que não vi ali grande mérito ficcional, sinceramente. Como se não bastasse, o marido da pobre senhora, com o auxílio da filha adolescente de ambos, chama as autoridades e faz com que a mulher seja enviada para um hospital psiquiátrico, ignorando, ao que parece, o visível facto de a pobre senhora estar visivelmente grávida. De modo que agora, se por um lado quero continuar a ver a série, por outro lado não quero.

Bom. É isto, desculpem a pobreza do post. Talvez tenha algo mais a dizer quando vierem os Oscars ou quando visionar, finalmente, o Midnight in Paris. 

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Animação cultural

Este blog precisa de uma animação, para animar. 
A animação que proponho é: qual a canção mais pirosa que conhecemos e sem a qual não podemos passar? Aquela canção que nos faz passar uma grande vergonha se dissermos aos outros que gostamos dela? 
A cultura pop tem tanta pérola falsa à espera de ser repescada que chafurdar um bocadinho na lama musical só nos poderá trazer grande divertimento. Pelo menos, a mim, traz.
Como no mundo virtual ninguém se conhece, podemos falar disto à vontade sem grande opróbrio. Eu começaria, por exemplo, pela seguinte lista, ainda sem ordem de preferência, mas que revela já grande potencialidade ao nível do bom gosto musical e estético, e da falta dele:

Baby One More Time, Britney Spears

Every TimeYou Go Away, Paul Young



Como agora estou com uma certa pressa, não posso completar a lista nem dissertar sobre a mesma. Mas fá-lo-ei em tempo útil, se a tanto me ajudar o engenho e a arte. Mais o engenho do que a arte. 

E ao pó voltaremos

Comecei a gostar de Rita Hayworth em pequena, porque tinha o mesmo nome do que eu. Lembro-me de que gostava muito dos cabelos dela, ruivos e bem ondulados. Mais tarde, soube que tinha, como se diz, encetado todos os esforços para se tornar estrela de cinema - aprendeu a colocar a voz, teve aulas de dicção, sujeitou-se à depilação da altura para se livrar dos cabelos que lhe encurtavam a testa e ficar com um sobrolho mais livre e alto, mais saxónico, como exigia Hollywood (e provavelmente ainda exige).
Curiosamente, nunca vi Gilda. O único filme que vi até hoje com a Rita Hayworth foi o Lady of Shangai,  com o Orson Wells, e que adorei. 
No entanto, a memória mais viva que tenho dela não é propriamente um filme, mas um artigo que li, devia ser ainda mesmo muito pequena - era um artigo de uma revista que descrevia a vida da actriz e que retratava com algum pormenor a sua velhice (na altura, ela ainda estava viva). A única fotografia que a reportagem tinha era, precisamente, a de uma envelhecida Hayworth de mãos dadas com a filha, que aprendi ser a "Princesa" Yasmin (devo dizer que, na altura, o facto de Rita Hayworth ter uma filha princesa, o que claramente indicava um casamento com um príncipe, me pareceu consolo suficiente para a velhice de qualquer pessoa, actriz reformada ou não, mas eu na altura era assim, muito a puxar ao superficial - tentei combater esta maleita à medida que fui crescendo).  No tal artigo, dizia-se então, de forma muito indignada, que Rita Hayworth tinha deixado de fazer filmes pela única e simples razão de se ter tornado velha, e que Hollywood usava e abusava de jovens mulheres talentosas para depois as deitar fora, e que havia sempre trabalho para actores idosos, para actrizes idosas é que não. Eram rejeitadas, injustamente esquecidas - aka Norma Desmond.
Aquilo fez-me muita impressão. Mas como é que a Rita Hayworth, casada com um príncipe, mãe de uma princesa, podia ser descrita naqueles termos, como uma renegada, uma desempregada falhada, uma pessoa esquecida por antigos amigos, amantes, enfim, pelo mundo inteiro? Era triste, mas parece que era verdade, como é também triste a famosa frase proferida por Hayworth e já repetida até à exaustão - "os homens vão para a cama com a Gilda e acordam comigo". Desilusão.
Estas histórias de actrizes esquecidas, Glorias Swansons, Ritas Hayworths, Garbos, a própria Bette Davies com aqueles olhos, aquela voz deliciosamente maldosa., são tanto mais trágicas quanto mais forte e exagerada é a mitologia que as rodeia - os olhos, a voz, os cabelos, o rosto, a presença, o filme em que ela fazia disto e daquilo e que foi visto por milhões de pessoas, uma iconografia montada para impressionar o indígena e que já não funciona quando se envelhece. 
Passando rapidamente à conclusão, que este post está a custar a escrever - rejeitados somos nós todos, de uma forma ou de outra, e, tal como uma actriz de Hollywood precisa que o público a adore para ganhar a vida, as pessoas mais normais também precisam do amor do mundo para sobreviver. O que acontece é que figuras como as de Rita Hayworth acabam por encarnar o próprio sofrimento da rejeição, ao terem de passar por um processo mais ou menos público de decadência, desalento, derrota.
Houve um fotógrafo cruel, Ted Leyson, que se dedicou a seguir a envelhecida Garbo pelas ruas de Nova Iorque, tirando-lhe fotografias à sucapa (ou talvez não tão à sucapa):



E ela que só queria estar sozinha. 

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Eu desejaria a todos um feliz 2012, caso estivesse em pleno exercício das minhas capacidades, ou melhor - da minha identidade. Graças à internet, começo a perceber que de facto eu não sou eu nem sou o outro, mas sim qualquer coisa de intermédio, como diria o outro, o Mário.
E a que se deve esta tardia, embora muito acertada, conclusão? Deve-se ao facto de eu ter ido ao Rotten Tomatoes ver as críticas a um filme qualquer e ter reparado que tinha um perfil neste site. Não só tinha perfil como, pelos vistos, "25 ratings" e "6 want to see". Aparentemente (palavra bem empregue aqui, já que está bem aparente no site), eu quero ver coisas como Gone Baby Gone, que nem sei o que é, e o Saw II. Por acaso, se calhar este último eu até via. Gosto de terror baratucho.
Não sei explicar isto.
A internet é o pleno exercíco não das nossas funções, mas sim da nossa alteridade. É muito, muito, muito estranho e só lamento que os Antigos não tenham vivido para contemplar este estado de coisas. Teriam muito a dizer, porque os Modernos não têm nada.
Fim.
A crise chegou a este blogue. Não consigo escrever nada.